Dez clássicos seguidos sem vencer. Oito com o FC Porto, entre eles cinco derrotas seguidas com a equipa de Sérgio Conceição.
Os números podiam ter um peso esmagador, mas no clássico de Alvalade viu-se, sim, um Sporting leve, sem o peso da história e capaz de tornar os dragões naquilo que não são: uma equipa banal durante demasiado tempo.
O clássico que valia a liderança isolada da Liga – do Sporting, do FC Porto ou do Benfica – trouxe duas notícias oficialmente confirmadas uma hora antes de Nuno Almeida apitar para o início do jogo: de um lado a recuperação de Pepe; do outro a ausência, por lesão, do capitão Coates, que deu lugar a Eduardo Quaresma.
O futebol insiste em surpreender-nos. Em contrariar os mais otimistas, mas também os mais pessimistas e até os analistas. Uma ótima notícia pode tornar-se péssima; e uma aparentemente má não tem necessariamente de o ser.
É que Pepe não foi o Pepe que continua a ser aos 40 anos. E a ausência de Coates foi preenchida de forma sublime pelo 72 dos leões, que até esta segunda-feira parecia ser o último dos centrais da hierarquia: atrás de Neto e, até, do adaptado Ricardo Esgaio.
Os primeiros minutos do clássico evidenciaram duas equipas que se conhecem. De um lado, os dragões a tentarem combater as virtudes do futebol de transição, com Pepe e Zé Pedro a encostarem em Gyökeres.
Chegou a parecer que o goleador do Sporting não teria vida fácil durante os 90 minutos, mas o avançado sueco não tardou a desmentir os sinais. Porque, sem espaço, procura-os. Aparece pelo meio, pela direita, pela esquerda, a explorar a profundidade ou a receber para combinar. Ou então, encontra-os sozinho, a furar como naquele minuto 10 em que Pepe parecia ter vencido o duelo e Alvalade acabou a gritar o 1-0.
A primeira parte (e também a segunda) mostrou um Sporting altamente confortável sem bola, mas também um FC Porto incapaz de ser perigoso quando a teve – e teve-a em 58 por cento do tempo – e com tremendas dificuldades para conter a vertigem dos leões, talvez a maior das muitas virtudes desta equipa de Ruben Amorim.
Talvez por isso, o Sporting deixou que os dragões tivessem a bola e uma falsa sensação de domínio transmitida pela presença no meio-campo contrário durante mais tempo.
Antes do intervalo, os adeptos leoninos ainda celebraram o 2-0, novamente de Gyökeres, que o árbitro reverteu após ver nas imagens do VAR um aparente toque de Eduardo Quaresma em João Mário quando construía uma jogada quase toda dele.
Um remate perigoso de Galeno, já em tempo de compensação, foi tudo o que o FC Porto apresentou numa primeira parte com muitos jogadores em sub-rendimento. Tantos que o 1-0 até era uma boa notícia à qual o conjunto de Sérgio Conceição podia agarrar-se para corrigir e partir para uma segunda parte superior.
A ação de Pepe sobre Matheus Reis – que aos 40 anos continua a ser um dos melhores centrais do futebol português mas conserva também o lado negativo dele (segunda expulsão por agressão em dois clássicos que jogou nesta época) – não provocou apenas um golpe no rosto do defesa do Sporting. Provocou também um rombo gigante na capacidade de reagir dos visitantes.
Inteligentemente, Amorim manteve-se fiel à estratégia de deixar que o adversário tivesse bola. Se contra 11 fez estragos, contra dez mais faria. Diogo Costa ainda salvou com um fantástico mergulho para a esquerda o golo de Edwards, mas pouco depois nada pôde fazer para evitar o 2-0 na sequência de um contra-ataque concluído por Pote a passe de Gyökeres, que escapou aos defesas em mais um movimento em profundidade.
Mais sal na ferida.
Se Sérgio Conceição é habitualmente um treinador hábil a montar estratégias e a ler o jogo, nesta segunda-feira terá falhado na forma como desenhou a defesa nos minutos após o golo sofrido. Durante 23 longos minutos juntou Zaidu a Zé Pedro, até finalmente lançar Fábio Cardoso no jogo.
É certo que o FC Porto nunca atirou a toalha ao chão. Atirou-se para a frente em busca de um golo que pudesse relançar o jogo e fazer pairar sobre os jogadores leoninos os fantasmas do dérbi da Luz.
Mas foram mais – muitas mais – as vezes em que a equipa da casa esteve perto do terceiro golo do que o dragão desse golo que faria renascer a esperança de uma equipa ferida.
O Sporting sai do clássico líder e com uma vitória esmagadora. Não pelos números, mas pela superioridade demonstrada diante de um FC Porto que continua a ser demasiado oscilante em 2023/24 e que nesta segunda-feira foi superado até na sua maior virtude: a de jogar estes jogos como se fossem os últimos da vida.
Também aqui Amorim ganhou um jogo do qual o Sporting sai como líder isolado da Liga.