O economista Miguel Cadilhe disse segunda-feira, em Braga, que Portugal «está em recessão económica grave», situação que começou em 1999 e se aprofundou a partir de 2003.
O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, qualificou esta terça-feira, em Bruxelas, de «gratuita», «alarmista» e «sem fundamentação técnica» a afirmação de Miguel Cadilhe de que Portugal «está em recessão económica grave».
Fala-se em recessão técnica «quando existem dois trimestres consecutivos de quedas do PIB, face ao trimestre anterior», disse à agência o professor de Economia da Universidade de Évora José Manuel Belbute.
Isso significa que o ciclo económico está em fase descendente, mas pode não ter batido no fundo, acrescentou o mesmo especialista.
«A nossa situação económica não é essa», afirmou o mesmo professor, porque a economia portuguesa tem apresentado crescimentos reais positivos.
Não há definições únicas de recessão
No entanto, há quem fale em recessão referindo-se a um ritmo de criação de riqueza «muito lento», com os fundamentais da economia mal consolidados, usando um conceito «mais valorativo» de recessão.
«Eu partilho dessa opinião para a economia portuguesa», disse José Belbute, lembrando que só o próprio Cadilhe pode esclarecer o que quis dizer.
Fernando Alexandre, professor de Economia da Universidade do Minho disse que «não há uma definição única de recessão», mas normalmente fala-se em recessão técnica quando o PIB cai por dois trimestres consecutivos.
Há quem use o termo recessão para dizer que uma economia está a crescer abaixo do seu potencial (no caso português esse nível anda à volta dos dois por cento), referiu o mesmo economista.
A recessão costuma ser mais conjuntural, pelo que Fernando Alexandre não concorda com a utilização desse conceito aplicado à situação actual da economia portuguesa.
É um facto que a economia portuguesa «tem crescido pouco e que a produtividade não tem crescido», notou Fernando Alexandre.
No entanto, o problema da economia portuguesa é estrutural e não conjuntural; existe um «problema grave na sua trajectória de crescimento», acrescentou o professor da Universidade do Minho.
Outra definição de recessão, que permite identificar melhor o mês da entrada em declínio, é a da entidade encarregue de datar os ciclos da economia dos EUA, o National Bureau of Economic Research (NBER).
O NBER diz que a recessão é um período de queda significativa na produção, no rendimento, no emprego e no comércio, que habitualmente dura entre um mínimo de seis meses e é marcada por contracções generalizadas, em muitos sectores da economia.
RELACIONADOS
Durão Barroso admite revisão do crescimento na Europa
«É muito possível que os EUA já estejam em recessão»
Fed revê em baixa previsão de crescimento dos EUA
Pinho confiante que Portugal tem condições para enfrentar crise
Ministro das Finanças: afirmação de Cadilhe é «gratuita» e «alarmista»
Miguel Cadilhe diz que Portugal «está em recessão grave»