Aos 30 anos, acabado de recuperar de uma lesão que o afastou dos relvados durante um ano, Ukra fez ao Maisfutebol uma visita guiada por 20 anos de carreira.

Numa entrevista à beira mar, em Vila do Conde, o extremo falou do início no Famalicão, dos anos no FC Porto, da passagem pelo Sp. Braga, e do Rio Ave, a que chama casa. Falou dos amigos que fez no futebol e dos ídolos com quem partilhou balneário.

Ukra contou ainda algumas peripécias da passagem pela Arábia Saudita, onde, apesar das diferenças culturais, não deixou de fazer as suas já conhecidas brincadeiras, mas também sofreu com saudades das filhas.

A lesão, a cirurgia, as perspetivas para o futuro, e o sonho de não terminar a carreira sem jogar no Municipal de Famalicão com a camisola do clube da terra são outros dos temas desta entrevista.

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Está há bastante tempo sem jogar por causa da lesão que contraiu na Arábia Saudita. Quase um ano, não é?

Fui operado fez agora um ano, em julho, fiz a recuperação em Portugal, e depois em janeiro fui para o CSKA de Sofia, já no final da recuperação.

Mas não correram bem as coisas na Bulgária. O que é que se passou?

Lá há uma segunda pré-época em janeiro. O campeonato para por causa do inverno, não dá para jogar por causa da neve. Fizemos uma semana e pouco na Bulgária, depois eles foram mais dez ou 12 dias para Espanha. Como eu ainda não podia jogar, mandaram-me para o Estugarda, porque têm protocolo com eles, e estive lá a acabar a recuperação. Estava tudo bem. Então voltei para a Bulgária para fazer a integração em campo com a equipa. Mas depois com o frio, com os campos duros, treinar em sintéticos… já não é bom para quem não tem problemas nenhuns. Até jogadores que nunca tiveram problemas saem dos sintéticos com dores de costas, tornozelos e tudo, então para quem está a recuperar de uma cirurgia, mais complicado é…

Só fez um jogo para o campeonato...

Ainda cheguei a fazer jogos treino lá, fui convocado para quatro ou cinco jogos, mas só joguei num. E depois, com as dores, em vez de a recuperação continuar a ser evolutiva, chegou a um ponto em que estagnou e não consegui fazer mais jogos.

E qual é o ponto da situação agora?

Estou a recuperar bem. Estou com o meu empresário à procura de um projeto que seja bom porque quero mostrar às pessoas que estou bem. Quero mostrar a mim mesmo que estou bem. Tenho saudades de jogar.

Tem alguma proposta concreta?

Têm aparecido algumas coisas, mas estamos a ver qual é a melhor opção para que eu me possa sentir útil a um plantel, possa ter minutos, mas claro que tenho que trabalhar para isso. O meu empresário disse-me para estar tranquilo, treinar, e preparar-me, porque a qualquer momento posso ir para qualquer lado. O futebol vai voltar a sorrir-me novamente. Sei que quem trabalha assim vai ser recompensado. Olho para trás com orgulho do que fiz e com vontade e curiosidade de ver o que a vida me traz.

E quer ficar em Portugal ou voltar a sair?

A minha prioridade é ir para fora porque estive tantos anos em Portugal e sempre quis ir para fora. Mas venho de uma situação complicada, quase um ano sem jogar. E nunca fecho as portas em Portugal. Também tenho uma filha recém-nascida, além das outras duas filhas, e é sempre bom ter a família perto.

Porquê esse fascínio por ir para fora? Motivos financeiros?

Temos que acautelar o nosso futuro porque a nossa profissão é de curta duração, desgaste rápido… as pessoas pensam que é fácil, mas não é. Podemos acabar a carreira e depois aos 50, 60 anos, estarmos aí cheios de dores nos joelhos, tornozelos… mesmo mentalmente é desgastante. Obviamente auferimos salários a que as outras pessoas não chegam, mas eu dou valor a isso, tento não entrar em loucuras, até para olhar, não apenas para o meu futuro, mas também para o das minhas filhas.

Mas também por querer mostrar o meu futebol, conhecer novos países, novas culturas, novos campeonatos, experiências. Quando fui para a Arábia, depois de as coisas estarem mais tranquilas, dizia: «Só volto para Portugal quando não me quiserem mais aqui, já quando for para a reforma».

E não pensa em voltar a Portugal?

Ainda há um sonho que quero cumprir, que é jogar no clube da minha terra. Não vou acabar a carreira sem representar o Famalicão. Joguei lá nos infantis, mas nunca joguei no Municipal e é um sonho que tenho.

Não me lembro do Famalicão na I Liga, era miúdo, mas cheguei a ser apanha bolas no Famalicão e jogava lá o Djalmir - e depois era eu a fazer as assistências para ele no Olhanense.

Até já disse ao presidente que gostava de ir para lá um dia. Na época passada fui ver um jogo, estava a falar com o presidente, e um adepto perguntou: «Presidente, já está a fechar o contrato com o Ukra?» O presidente respondeu: «Não temos dinheiro para ele’, mas o adepto disse logo: ‘Deixe estar que nós ajudamos a pagar o ordenado». E recebo muitas mensagens de pessoas a perguntarem quando vou para lá.

Gosto muito do FC Porto, onde fiz a minha formação, gostei de estar no Varzim, ajudou-me no primeiro ano de sénior, que é uma transição complicada e passei um ano lá muito bom. Estive dois anos no Olhanense, o que foi espetacular. Estive com o Jorge Costa e num deles fomos campeões da II Liga e no outro garantimos a manutenção na I Liga. Tive oportunidade de estar no plantel principal do FC Porto, no Sp. Braga, Rio Ave… Mas o Famalicão é o meu clube do coração.

Ukra no Olhanense

Também tem uma ligação forte ao Rio Ave, não é?

Passei lá quatro anos fantásticos. Foi o clube onde as coisas me correram melhor, onde cheguei a ser internacional A, fomos à fase de grupos da Liga Europa, final da Taça de Portugal, final da Taça da Liga, disputamos a Supertaça… foi um clube que me marcou muito. Tenho muito carinho pelas pessoas todas e quando venho a Portugal vou sempre lá… é casa.

Parece ter-se criado um grupo unido nesses anos...

Dávamo-nos todos super-bem. Sempre contentes, alegres, nunca olhávamos com inveja para os outros, mesmo que fosse da nossa posição e não jogássemos, quando era para trabalhar, trabalhávamos todos. E isso foi-se notando ao longo dos anos. O Marco Aurélio [diretor de Comunicação] também conseguiu dar a conhecer muito mais do clube do que antes. As coisas já eram assim, mas as pessoas de fora não sabiam.

Ukra no Rio Ave

Entrevista completa:

«Tenho saudades de jogar»

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