Em 2003, quando o jovem Bruno Moraes chegou do Santos para reforçar o FC Porto de José Mourinho, estaria o irmão Aluísio, conhecido por Júnior, por ser o mesmo nome do pai, longe de imaginar que, mais de uma década depois, seria ele a cruzar-se no caminho daquela equipa. Mas como adversário.

Júnior Moraes nunca jogou no FC Porto, nem sequer em Portugal. Mas conhece muito bem aquele lugar. «O Porto é praticamente a minha segunda casa», assume.

O avançado do Dínamo Kiev, agora com 28 anos e em época de estreia na equipa da catedral ucraniana, conta ter ficado «muito feliz» com o sorteio que o juntou ao FC Porto. Em entrevista ao Maisfutebol, diz que foi «uma surpresa grande e uma surpresa boa».

«Todos os anos eu vou ao Porto. É uma cidade que diz muito a mim, ao meu irmão e à minha família. Por assim dizer, temos lá território já há mais de dez anos…», comenta, entre risos.

Contratado ao Metalurg Donetsk no início da época, Júnior Moraes é uma possibilidade muito forte para o centro do ataque do Dínamo, no jogo desta quarta-feira ( leia a ANÁLISE de Nuno Travassos). Um encontro que, acredita, será «bom e equilibrado».

«São equipas muito iguais. Equipas com muita tradição. O FC Porto é uma equipa que tem vindo a fazer sucesso na Europa, o Dínamo já fez e está agora a voltar a jogar com qualidade. Acredito que vai ser um jogo interessante de seguir e espero uma vitória, claro», deseja.

Para isso, fez tudo o que estava ao seu alcance para estudar o rival: «Tenho os meus informantes no Porto (risos). O meu irmão é um deles. Conversa bastante comigo.»

Bruno Moraes falou ao irmão mais nove sobre «a forma de o FC Porto jogar», onde «ter espaços, onde atacar». Mas Júnior garante que nem era preciso: «Sempre acompanhei a equipa do FC Porto. É uma equipa que conheço há muitos anos e conheço muito bem. Sei que saíram jogadores-chave e a equipa está a reestruturar-se. Perderam jogadores importantes. Danilo, Jackson, Casemiro, Oliver…Eram a estrutura da equipa.»

«Não posso dizer que o FC Porto está mais fraco, mas claro que ainda não é uma equipa com a mesma sintonia. Leva tempo a que se entendam como equipa»
, defende.

«Não poderia ter um irmão no FC Porto e ser do Benfica, não é?»

Confessando-se «bastante ativo no que diz respeito ao FC Porto», Júnior Moraes revela ainda que armas planeia usar para bater aquele que considera um dos pontos fortes do rival: a defesa.

«Vou tentar explorar a minha velocidade. Na Ucrânia o futebol é muito forte e intenso. Sei que é só a estreia na Liga dos Campeões, mas acredito que este pode ser o resultado chave do grupo. Quem ganhar sai na frente…», recorda.

E por isso, mesmo que seja à custa da sua «segunda casa», Júnior Moraes quer causar impacto imediato na Liga dos Campeões. O sonho, esse, era ver os dragões seguirem o seu Dínamo rumo aos oitavos de final.

«O Chelsea é a primeira força do grupo. É verdade que o início não está a ser muito bom e dá esperança de que pudesse concretizar o meu desejo de passar Dínamo e FC Porto. No futebol tudo é possível, mas o mais normal, claro, é passar o Chelsea e depois um dos outros», assume.

Mesmo frisando o «respeito pelo Maccabi Telavive», que exige « cuidado», acredita que «será entre FC Porto e Dínamo que se decidirá a segunda vaga».

«O Chelsea é uma equipa de altíssimo nível, com grandes jogadores, alguns dos melhores do mundo. Se estiver bem, é a melhor equipa do grupo. Tem também um grande treinador que conheço bem do FC Porto. Este grupo ficou bem interessante, não? Os jogos com o FC Porto vão ser decisivos. Creio que será nos dois jogos que se irá decidir o apuramento»
, vaticina.

O tal «grande treinador» que Júnior refere é, naturalmente, José Mourinho. O primeiro do irmão Bruno em Portugal. Já nessa altura, de resto, o agora rival portista andava pelos corredores do Dragão. E mais, até.

«Fui ao último jogo do Estádio das Antas e fui ao primeiro no Estádio do Dragão. Todos os anos vou ao Porto. A última vez que estive no Dragão foi no jogo de despedida do Deco», conta.

A pergunta, portanto, é natural: sente-se portista? A resposta, contudo, é hesitante, mas clara: «Ora bem, se for a falar de Portugal é verdade que é a equipa que acompanho mais. Não poderia ter um irmão no FC Porto e ser do Benfica, não é? Até porque o meu irmão tem aquele jogo que foi um marco para ele, quando marcou ao Benfica no último minuto. Por isto tudo, estes jogos vão ter um sentimento especial.»

O icónico golo de Bruno Moraes ao Benfica:




Melhor do mês na Ucrânia e o sonho da seleção

«Está a correr até melhor do que eu esperava». É desta forma que Júnior Moraes analisa os primeiros tempos no Dínamo Kiev. Soma já três golos em oito jogos e lembra que, um deles, até foi «o melhor da jornada».



«O começo nunca é fácil. Há sempre a adaptação a uma equipa nova e todos querem jogar. Há muitas opções e isso obriga-nos a competir sempre. Estou feliz com o meu início. Foi uma escolha difícil, porque tinha propostas da Ásia que financeiramente era muito boas. Mas quem tem objetivos pessoais como eu, sabe que tem de abdicar de algumas coisas para os conseguir»
, sublinha.

A Liga dos Campeões até pode ser uma boa montra, porque há um desejo assumido: «Espero fazer uma boa época e quem sabe chegar à seleção, que é o meu sonho e o grande objetivo. As coisas estão a começar a correr bem. No segundo mês já fui eleito o melhor jogador do mês da Ucrânia.»

Para alcançar as metas que projetou, conta, claro está, com a «ajuda do grupo», com quem reparte o mérito dos êxitos que vem somando. Entre o plantel, contudo, há um núcleo especial. Onde se fala português.

Para além de Júnior Moraes, o Dínamo tem outro brasileiro, Danilo, e dois portugueses: Miguel Veloso e Antunes. «Temos uma relação muito boa. E, olhe, desde que saiu o sorteio que temos brincado muito com isso. Os portugueses também estão muito animados e motivados para esse jogo com o FC Porto», conta.

Que role a bola, então.