Uma vitória em crescimento, inteiramente justa, e que marca a breve história europeia do Estoril. Pela primeira vez, a equipa da Linha venceu um jogo da fase de grupos da Liga Europa. Fê-lo com uma exibição sólida e inteligente. Consciente dos riscos a correr nas várias fases do encontro. Na Amoreira, a noite foi sorridente graças a golos de Kléber e Diogo Amado. O Estoril recuperou pontos e agora, num grupo que ainda engloba o Dínamo Moscovo e o PSV Eindhoven, está com os mesmos pontos que os holandeses.

Os números finais da primeira parte eram parcos: seis remates do Estoril, nenhum à baliza e três deles intercetados; o Panathinaikos tinha acertado no alvo, mas a defesa de Vagner foi bastante fácil. Ou seja, a estatística, se ainda não se desse conta do resultado, trazia com ela a probabilidade de um nulo, confirmado no marcador. Ainda assim, havia algumas ideias a tirar dos 45 minutos iniciais.

A primeira é que o estatuto que o Panathinaikos possa ter na Grécia não é comparável em campo àquilo que o Estoril encontra quando defronta candidatos ao título em Portugal. Apesar de ser, na história do futebol grego, o único clube finalista da Taça dos Campeões Europeus, a equipa ateniense está a léguas de ser um rival tão complicado como o currículo que tem o pode fazer prever.

Daí, a segunda ideia: o Panathinaikos teve mais bola, não muita, é certo, mas mesmo assim mais do que o Estoril. Porém, nunca incomodou. Alguns cruzamentos de Nano pela esquerda e pouco mais, para além do remate fraco de Ajagun. Sem Bourbos dar a mesma profundidade na lateral direita que Nano no flanco oposto, o Estoril conseguiu controlar bem um adversário que, apesar do que foi escrito no parágrafo anterior, tinha sempre de ser considerado favorito no papel.

A terceira ideia é sobre o Estoril: com menos bola, foi mais perigoso. Um remate de Cabrera em boa posição saiu torto, como para fora foi a bola enviada por Bruno Lopes, na melhor ocasião da primeira parte. Tozé somou mais um remate estorilista, mas o destaque da equipa tinha de ir para Diogo Amado e Esiti: um a confirmar-se como fundamental no meio-campo, outro como a melhor alteração no onze que Couceiro lançou para a partida. Em suma, percebia-se que com um pouco mais de risco, a equipa portuguesa podia chegar à primeira vitória da história, na fase de grupos da Liga Europa.

José Couceiro percebeu-o. E lançou Kléber para o segundo tempo.

Em poucos minutos, o jogo mudou por completo. Claro que um golo é, normalmente, fator dessa mudança, mas antes de Kléber concluir a grande jogada de Sebá, já o Estoril estava mais pressionante e agressivo: aliás, instantes antes do 1-0, Kléber tinha assustado os gregos. Com o golo, o Estoril obrigou o Panathinaikos a mudar.

A equipa helénica passou a jogar em 4x1x3x2, tinha de ser ela, agora, a lançar-se para a frente, um fator que os canarinhos podiam explorar. O equilíbrio da organização do Estoril permitiu-lhe segurar o ímpeto grego, com Pranjic a rematar para defesa de Vagner, também ele uma figura do encontro.

Pelo meio, o mesmo Pranjic evitou em primeira instância o 2-0, mas foi a visão de Cabrera e Amado – um no passe, outro na desmarcação e finalização – a decidirem em definitivo o jogo. O 2-0 aos 66 minutos dava margem para qualquer deslize atrás.

A vontade grega e a ansiedade estorilista desorganizaram um pouco a equipa portuguesa, mas apenas num lance de Ajagun o Panathinaikos esteve verdadeiramente perto de gritar golo. Em suma, o Estoril foi de menos a mais, percebeu que nomes não fazem equipas e criou mais um episódio de uma fábula europeia que é bastante curta, mas que nem por isso deixa de ser feliz. Houve história na Amoreira, nesta noite.