Não é à toa que o Arouca é filial do FC Porto - a número 40. Na pacata vila recentemente colocada no mapa da Liga principal o que não faltam são seguidores do Dragão. O clube que até começou por se chamar Ginásio Clube de Arouca, e detinha várias modalidades para além do futebol, mudou para Futebol Clube de Arouca poucos anos após a fundação (em 1951), depois de se filiar no emblema portista.

Os tempos eram outros, mas a designação manteve-se, e, hoje em dia, volta a fazer sentido. «A malta jovem, talvez uns 80 por cento, são do Porto. É normal, é a equipa que ganha mais vezes. Já nos mais velhos acredito que o Benfica leva a melhor», conta ao Maisfutebol Artur Fernandes, proprietário de um dos restaurantes na principal estrada de acesso à vila. Apesar de se inscrever na segunda faixa etária, o coração pende-lhe para o azul e branco. «A mim, quem me tira o meu Porto, tira-me tudo [risos]», dispara, ainda sem saber se irá deslocar-se ao estádio para ver o jogo ao vivo: «Ainda não decidi. Depende do trabalho no domingo».

Ora ai está um aspeto em que os arouquenses verão quebrada a habitual quietude da localidade. O dia promete ser de grande azáfama para o comércio, especialmente a restauração e uma área em que Arouca é famosa: a doçaria, especialmente a conventual.

Numa das principais casas de pão de ló da vila assumem a tal divisão sentimental em matéria de cores clubísticas. «A maioria é simpatizante do Porto, mas o clube da terra, é o clube da terra.» Palavra de doceira.

Entre charutos e roscas de amêndoa, morcelas ou castanhas doces, barrigas de freira, melindres ou pedras parideiras, ainda não há nenhuma iguaria dedicada ao clube, mas a história no patamar principal do nosso futebol está só a começar.

A visita dos campeões nacionais, primeiro grande a jogar de forma oficial em Arouca, promete quebrar rotinas, desassossegar por umas horas, mas poderia ser bem mais caótica caso tivesse acontecido há uma semana, por altura da tradicional feira das colheitas.

O certame arrasta sempre milhares de pessoas e as serpenteantes estradas de acesso à localidade ficam como que entupidas por esses dias, especialmente no fim-de-semana.

Um conselho se pretende ir à bola? Vá cedo. Vai permitir-lhe cuidar do estômago (depois das curvas e contracurvas, acredite, vai precisar), disfrutar do enquadramento bucólico, e acomodar-se sem stress na bancada. O tempo vai ajudar.

Autoestrada? Não tem nada a ver

Venha-se do norte ou do sul, neste caso mais do norte, não há volta a dar. A autoestrada não chega nem perto de Arouca e é preciso muita paciência (e sorte) para fazer o caminho até ao destino final sem desesperar.

«A primeira vez que fui ver no mapa onde ficava a vila não deu para ter noção exata, mas lembro-me bem da primeira viagem. Foi o Stephane que me trouxe e não parei de perguntar: ainda falta muito? Já tinha visto a placa de entrada no concelho, mas nunca mais chegávamos», conta o antigo boavisteiro Hugo Monteiro, o mais antigo do plantel.

«Nessa altura [há três anos] não havia a A32, íamos pelo Picoto, era só estrada nacional até aqui», prossegue, agora já adaptado ao traçado sinuoso. «O corpo acaba por se habituar. Quanto era mais novo, também não conseguia comer nada antes de treinar, agora é o contrário», observa.

Mais rotinado, já não se chateia como o percurso desde Santa Maria da Feira, a 40 kms. Nada que se compare, ainda assim, ao «inferno» de quando começou a jogar no emblema arouquense. «Éramos sete e vínhamos do Porto numa carrinha de oito lugares. Levávamos hora e meia», recorda.

O problema é que Arouca fica no raio de várias cidades e, como tal, a tentação de fazer a percurso diariamente é grande. A solução, para uma boa parte dos atletas, foi alugar casa na vila, pelo menos para o trabalho semanal.

Um clube familiar, que quer abraçar a modernidade

O Arouca é um clube diferente, pela fidelidade às suas origens. A subida, tão arduamente desejada, veio colocar uma série de desafios ao modesto emblema das cercanias da Serra da Freita.

A preocupação é modernizar, torná-lo mais profissional e adequado às exigências do futebol de topo, sem perder o que o torna peculiar, a sua essência e verdadeira força: o cariz familiar e bairrista.

«Se queremos trabalhar como os grandes, temos de ter as condições dos grandes», lembra Joel Pinho, diretor-desportivo da equipa da serra da Freita, recordando que alguns aspetos já estavam a ser tratados desde a época passada, como é o caso do departamento clínico.

«Já tínhamos um acordo com o Grupo Vitalino Sousa Figueiredo e agora vamos melhorar. O posto médico ficou todo equipado com as mais recentes tecnologias, a fim de poder proporcionar recuperações mais rápidas aos atletas», sintetiza.

O apoio do complexo desportivo municipal para utilização do ginásio manteve-se, mas passou a haver também uma sala para esse fim nas instalações do clube, para qualquer tipo de trabalho específico.

Pequeno-almoço no estádio

Outra novidade é a possibilidade de os jogadores tomarem o pequeno-almoço todos os dias antes dos treinos, logo cedo. «A nossa imagem de marca sempre foi o nosso espírito familiar e cumplicidade. Queremos, absolutamente, preservar esse bom ambiente», atalha o dirigente.

Foi criada a figura do «team manager», cargo ocupado por Flávio Soares, que transita das camadas jovens, e passou a ser o braço-direito de Joel Pinho. A área do «scouting» ou prospeção, transversal a todos os escalões, tornou-se profissional e passou a ser chefiada por um dos adjuntos de Pedro Emanuel, Virgílio Fernandes.

Na área da comunicação, o privilégio foi para uma agência com gente da terra, a Made4you. «Uma das pessoas é de Arouca e foi isso que procurámos, até para haver uma maior e melhor identificação com os adeptos. É uma empresa jovem, que nos assegura a gestão da imagem, web e marketing», detalha.

O site oficial foi recentemente remodelado e tornou-se no veículo privilegiado para a divulgação da atividade da agremiação, mas não bate a popularidade do Facebook, onde o Arouca foi dos clubes que mais cresceu. Passou dos 3000 likes para 7000, e a interação com os adeptos é inigualável. O clube também passou a estar representado nas outras redes sociais.

Estádio remodelado para receber 5 000 pessoas

O objetivo principal desta transmutação foi, nas palavras de Joel Pinho, «renovar, dar mais qualidade, no fundo, tornar tudo mais funcional». «Queremos também evitar saturar a Direção com todas as questões, como vários aspetos burocráticos, que podem ser resolvidos por mim ou outro membro do staff», refere.

No âmbito do estádio, o prazo das obras foi escrupulosamente cumprido, e já foi nas novas bancadas que os adeptos assistiram ao jogo de apresentação da equipa, diante do Desp. Corunha.

O recinto passou a ter os 5000 mil lugares exigidos pela Liga, além de uma pista de atletismo e diversas salas de apoio. E é esse anfiteatro melhorado e ampliado, com vista para a Serra da Freita, que irá acolher os apaniguados portistas no domingo. Não se esqueça, mais uma vez: vá cedo.