O FC Porto vestiu-se com capa de super-herói, colocou a mascarilha, pegou na espada e viajou para Lisboa com uma missão: resgatar o orgulho de campeão.

Aquele antigo, mui nobre e sempre leal orgulho de campeão.

Não era uma missão fácil, convenhamos. As probabilidades estavam até bastante contra ele. Antes de mais, jogava num estádio coberto de entusiasmo até às orelhas. Um estádio carregado de euforia e paixão, alimentadas por uma época notável e por uma equipa em grande forma.

Depois tinha quase tudo a perder. A desvantagem enorme para o primeiro lugar e a proibição absoluta de perder pontos enchiam de pressão o jogo, perante um rival que entrava em campo de cadeirinha, confortavelmente sentado na liderança e com uma boa almofada para as costas.

Ora perante tudo isto, não havia de facto muito a fazer. Era necessário abrir vestir a capa de herói e abrir caminho para o final feliz. Nem que fosse a golpes de espadachim.

Foi precisamente isso que a equipa de Sérgio Conceição fez.

Perante um Benfica que desde cedo definiu uma zona de pressão mais recuada, o FC Porto tomou conta da posse de bola e partiu à procura do golo. Se calhar esse até foi o primeiro erro de Roger Schmidt: deixar o adversário jogar. Foi uma espécie de balde de gelo no caldeirão.

Mas enfim, não foi apenas isso. Até porque o Benfica, no primeiro remate à baliza do FC Porto, marcou: Bah cruzou da direita, Gonçalo Ramos ganhou de cabeça sobre Pepe e atirou à trave, a bola ressaltou na nuca de Diogo Costa e entrou na baliza.

Um golo caprichoso, caído do céu, que devia ter sido aproveitado de outra forma.

Mas a verdade, no entanto, é que não mudou nada. Ou, pelo menos, mudou muito pouco. O FC Porto teve ali uns minutos de desnorte, que não corresponderam a um crescimento do Benfica. A equipa encarnada continuou estranhamente nervosa e a perder muitas bolas.

O clássico, aliás, esteve longe de ser um bom jogo. É verdade que teve emoção, foi agitado, houve incerteza até ao fim, mas não transportou para o relvado arte ou talento.

Certo é que, perante o cinzentismo adversário, o super-herói que havia dentro do FC Porto foi recuperando a confiança e crescendo minuto após minuto. Sem criar grandes oportunidades de golo, mas fazendo uma ou outra ameaça através de jogadas de bola parada.

Até que em cima do intervalo, um momento de inspiração coletiva permitiu a Uribe empatar a partida. O Benfica desabou por completo. Logo a seguir Galeno colocou os portistas na frente, mas o golo foi anulado por uma fora de jogo de seis centímetros.

O intervalo parecia uma boa notícia para o Benfica, mas não foi.

Pouco tempo após o início da segunda parte, Taremi fez o segundo golo do FC Porto, ou pelo menos o segundo golo que de facto contou, e reavivou os fantasmas da primeira parte.

Até ao fim, o Benfica tentou correr contra os próprios medos, contra a sombra que o assustava, como um menino a sonhar com grandes aventuras e sem conseguir ultrapassar o receio do que se escondia debaixo da cama. Pelo que preferia enterrar a cabeça nos lençóis.

A verdade é que o líder esta noite foi pouco. Demasiado pouco.

Não parecia a equipa que Portugal e a Europa apreciaram, e elogiaram, até este dia 7 de abril. Tanto assim que a melhor oportunidade ainda foi de Taremi, numa jogada de três contra um.

O FC Porto não fez uma exibição brilhante, longe disso, mas vestiu-se de herói e resgatou o orgulho de campo. A formação de Sérgio Conceição sai de Lisboa com um espírito renascido e capaz de ambicionar mais aventuras. Como nos desenhos animados.

Um por todos e todos por um.

Será que isso chega para voltar a entrar na corrida ao título? Para já ainda são sete pontos, pelo que o desfecho desta história está nas mãos do Benfica. O final feliz ainda depende apenas dele. Terça-feira há jogo da Liga dos Campeões com o Inter Milão. O líder precisa com urgência de um bom resultado que o devolva ao caminho da felicidade.