Sérgio Conceição.

É indesmentível que o título do FC Porto tem a marca carregada do treinador, que se tornou o corpo e a alma do clube. Foi ele que construiu a equipa vencedora e a reconstruiu após perder Corona, Sérgio Oliveira e, sobretudo, Luis Díaz.

Por isso começamos e acabamos em Sérgio Conceição, mas temos que passar por outros nomes, jogadores que através de golos, assistências ou apenas aquela consistência dos verdadeiros craques conduziram o FC Porto ao lugar mais alto da Liga.

O Maisfutebol escolheu as sete figuras-chaves do novo campeão nacional. E começa pelo nome obrigatório.

1. SÉRGIO CONCEIÇÃO: alquimista incansável

É impossível olhar para o novo campeão nacional e não ver o reflexo do treinador. O FC Porto tem, da cabeça aos pés, a marca registada de Sérgio Conceição e esse é o maior elogio que alguém pode fazer a um treinador.

O técnico tem mostrado ao longo dos anos ser um homem de muitas ideias e, mais importante do que isso, de ser capaz de passá-las ao plantel com uma eficácia notável.

Talvez nunca como esta época o FC Porto teve de se reinventar: no início da época após perder Danilo e Marega, a meio da temporada quando viu sair Sérgio Oliveira, Corona e, acima de tudo, o influentíssimo Luis Diáz: o motor que fazia funcionar a máquina portista.

Como um alquimista que transforma pedras em ouro, Sérgio Conceição foi pegando no que havia e criando novas pepitas, preparadas para brilhar numa equipa que foi alcançado feitos absolutamente dourados: entre eles um recorde de invencibilidade em Portugal.

Na base sempre a mesma ideia: o espírito de um grupo à Porto, tão bem traduzido na reinvenção da roda com que a equipa fecha todos os jogos. A empatia criada por Sérgio Conceição na alma deste FC Porto tornou-o a verdadeira força tranquila, para utilizar o conhecido slogan de François Miterrand criado por Jacques Séguéla: uma força tão impetuosa e firme quanto equilibrada. Mais tarde ou mais cedo, impõe-se sempre.

2. PEPE: um capitão à Porto

Os 39 anos de Pepe são um caso de estudo. No fundo são 19 anos, mas com mais vinte de experiência em cima. Por isso o central joga como um miúdo e pensa como um veterano. É verdade que às vezes o furor da juventude ainda vem ao de cima, o que este ano lhe custou vários jogos.

Entre lesões e castigos, aliás, Pepe esteve apenas em dezoito dos trinta e um jogos feitos até agora pelo campeão, mas mesmo assim foi fundamental pela segurança, pela inteligência, pela capacidade física e pela mentalidade que transmitia aos colegas do que é uma verdadeira equipa à Porto.

3. VITINHA: pura classe

Dois golos e três assistências não contam tudo sobre a verdadeira influência deste médio que começou por ser um problema e acabou por se tornar uma solução.

No início da época era para ser vendido e permitir um importante encaixe financeiro, mas nem o Wolverhampton nem nenhum outro clube aceitaram pagar os vinte milhões de euros que o FC Porto pedia. Ficou até final de agosto em banho maria, acabou por não sair e estreou-se a titular à sexta jornada, jogada a 19 de setembro.

A partir daí somou mais de dois mil minutos de pura classe. Vitinha é um daqueles médios com pezinhos de lã, inteligência e rigor tático, que fazem o futebol fluir com uma naturalidade desarmante. Talvez por isso foi eleito o melhor médio da Liga nos últimos três meses e tornou-se internacional a caminho do Mundial do Qatar.

4. TAREMI: números que impressionam

Um dos grandes candidatos a melhor jogador do campeonato. A influência do iraniano no título portista é aliás muito fácil de explicar: até agora marcou dezoito golos e fez treze assistências, tendo participado decisivamente em 31 dos 79 golos da equipa no campeonato: ou seja, praticamente quarenta por cento do total de golos portistas.

Os golos e as assistências de Taremi valeram diretamente 26 pontos ao FC Porto, o que no fundo é impressionante, e diz tudo sobre a influência do avançado no título.

Taremi é um avançado com muito pouco para provar, ele que ocupa nesta altura o segundo lugar da lista dos melhores marcadores, preparando-se para acabar pela terceira vez no pódio dos goleadores... em três anos no campeonato português.

5. OTÁVIO: mística de campeão

Não foi o jogador de campo mais utilizado por Sérgio Conceição apenas porque Mbemba somou mais minutos, mas foi o jogador de campo com mais jogos: 29 partidas, sempre como titular, falhando, portanto, apenas duas jornadas.

Otávio é aquele tipo de jogador que é capaz de fazer tudo, com a diferença que, ao contrário da maioria destes jogadores, ele é capaz de fazer tudo, sim, mas fá-lo bem. Tem técnica, tem visão, tem pulmão, é agressivo e é rigoroso.

É provavelmente o melhor amigo do treinador. Este ano, porém, tornou-se também o melhor amigo dos adeptos, adquirindo uma capacidade de resolver jogos que o torna, também a ele, um forte candidato a melhor jogador do campeonato: três golos e doze assistências no campeonato são uma explicação cabal para o que atrás se disse.

6. LUIS DIÁZ: tão bom enquanto durou

Deixou o Dragão na última semana de janeiro, o que quase levava Sérgio Conceição à loucura. Afinal de contas não é fácil para nenhum treinador perder o melhor jogador do campeonato a meio de uma corrida para a felicidade.

Luis Diáz tinha tudo para ser, a grande distância, o craque desta Liga. Em dezoito jogos já levava catorze golos, que o tornavam com larga vantagem o melhor marcador do campeonato, mais quatro assistências: participação direta em 18 dos 51 golos portistas.

Mais do que os números, porém, o que impressionava em Luis Diáz era a capacidade de desequilibrar. Ele sozinho podia resolver um jogo, o que era uma arma preciosa quando falhava alguma coisa na inspiração coletiva. Explosivo, tecnicista e com uma capacidade de remate admirável, Luis Diáz afirma-se agora no Liverpool. O que diz tudo.

7. DIOGO COSTA: a afirmação de um grande guarda-redes

Dois anos a jogar sempre nas Taças de Portugal e da Liga, incluindo a final do Jamor frente ao Benfica, já permitiam perceber a consideração que Sérgio Conceição nutria por este jovem guarda-redes formado no Olival.

Apesar disso, não deixou de ser com surpresa, e alguma desconfiança, que Portugal olhou para a titularidade de Diogo Costa no campeonato, logo a partir da primeira jornada. Sobretudo porque isso significava relegar para o banco de suplentes um internacional argentino que ainda há duas épocas tinha sido fundamental no título portista.

A verdade é que o tempo veio a dar razão a Sérgio Conceição. Diogo Costa justificou plenamente a aposta e tornou-se uma certeza para o futuro. Muito frio, seguro e confiante, com excelente jogo de pés, ganhou a titularidade até na baliza da Seleção Nacional.