Quando amamos, temos sempre tempo.

Apaixonado pelo Moreirense e por Moreira de Cónegos, António Brás é o diretor do campo Comendador Joaquim de Almeida Freitas. Fá-lo sem receber nada em troca, apenas por amor às cores do clube ao mesmo tempo que preside a Junta de Freguesia local.

É aquele tipo com o fato do clube que está sempre ao lado do quarto árbitro. 

«Tornei-me diretor do campo há seis anos. Sou sócios desde 1969 e sempre participei nas assembleias do clube. Ofereci-me à direção para o que fosse preciso. Sou diretor voluntário, não ganho nada. O meu pai foi diretor do Moreirense desde a fundação do clube até falecer. Foi uma coisa que aconteceu natural», começa por dizer ao Maisfutebol.

O senhor Brás acumula as funções de autarca e de diretor do campo, com o trabalho no canil municipal de Guimarães.

«Sou tratador de animais no canil municipal de Guimarães. De segunda a sábado, entro às 7h da manhã e saio às 12h30. Além disso, sou presidente da Junta de Freguesia, da mesa da Assembleia Geral da Cooperativa elétrica e da Banda Filarmónica. Como consigo fazer tudo? Vamos andando», lembra, entre risos.

Orgulhoso sócio dos cónegos, António Brás explica em que consiste a sua função sempre que o Moreirense joga no Comendador Joaquim de Almeida Freitas.

«O regulamento obriga a que esteja no estádio três horas antes do início de jogo. Recebo os delegados da Liga, dou as boas-vindas às duas equipas, aos colegas de outras direções. Tento fazer com que se sintam bem quando visitam o nosso Moreirense. Acolher bem toda a gente é um dos princípios básicos», elucida.

«Fico no relvado sempre próximo do delegado da Liga, sempre atento ao que seja preciso fazer e não permitir que entrem estranhos naqueles espaços. Logo aí, há muita responsabilidade. Gosto de estar próximo dos nossos jogadores e de ver os adversários. Sou responsável pelos apanha-bolas também. É um orgulho receber clubes em Moreira de Cónegos, sejam grandes ou pequenos. É sempre uma sensação extraordinária quando recebemos Sporting, Benfica, FC Porto ou Vitória. Há uns anos era impensável», acrescenta.

O senhor Brás perde o fio à conversa e lembra o falecido pai, alguém que participou ativamente na vida do Moreirense desde 1938, data da sua fundação.

«O meu pai já faleceu e nunca teve essa sorte de ver o Moreira na primeira divisão. Se ele nascesse agora, nem acreditaria que o clube estava na primeira divisão», refere, com a voz ligeiramente embargada.

O futebol mudou tal como o protocolo da realização dos jogos da Liga. No entanto, António Brás não deixou de fazer o que sempre fez.

«Ainda só fizemos um jogo em casa, por isso… A minha atenção redobrou para tentarmos corresponder a todas as questões de segurança e de higiene. Acho que correu muito bem, pena o resultado [derrota frente ao rio Ave]. Mas faz parte», atirou, com risos à mistura.

António Brás seguiu o caminho do pai e encontrou no Moreirense um amor incapaz de ser explicado. Como todos os amores, de resto.

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Fora do jogo é uma rubrica do Maisfutebol que dá voz a agentes desportivos sem participação direta no jogo. Relatos de quem vive por dentro o dia a dia dos clubes e faz o trabalho invisível longe do espaço mediático. Críticas e sugestões para smpires@mediacapital.pt ou vem.externo@medcap.pt.