Esta semana vou escrever sobre os jogadores que já passaram os 30 e outros os 40!

Porque continuam e qual o seu papel?

Há duas semanas destaquei no programa «Maisfutebol» (sexta-feira, 22:30, na TVI24)
o regresso de Zanetti aos relvados, após uma lesão grave que poderia terminar com a sua carreira. Não o fez.

Zanetti tinha 39 anos quando isso aconteceu. Regressou com 40 e nesse jogo ajudou o Inter a ganhar. A forma como a equipa celebrou um dos golos, correndo toda ela para o jogador argentino, diz bem da influência e do respeito que todos têm por ele.

40 anos? O que o leva a levantar-se todos os dias e ir treinar?

Não me parece que seja a questão financeira, mas sim a paixão, o prazer que tem e a motivação que encontra para correr, saltar e continuar feliz fazendo aquilo que gosta.

A mesma paixão e prazer pelo futebol fez também Valdo terminar com 41 anos. Ele esteve no «Maisfutebol» há pouco tempo e foram várias as histórias que revelaram isto mesmo. Entre alguns países e várias equipas demonstrou sempre muita qualidade. E ele recordou que no último período, dos 39 aos 41 anos, de regresso ao país natal, quando tocava a correr lá ia ele na frente. Liderar pelo exemplo.

Outro dos exemplos é o jovem galês de Manchester. Ryan Giggs lá anda, feliz da vida, agora sem o seu treinador de sempre, Sir Alex Ferguson, mas com a classe a que sempre nos habituou.

Não joga sempre mas nem por isso deixa de oferecer a sua qualidade, mais refinada com os anos, sempre com classe.

Por essa Europa são vários os exemplos, mas em Portugal situações como estas seriam muito difíceis. Existe o pensamento que os jogadores a partir dos 30 anos já são velhos. Errado, mas é difícil mudar esta mentalidade. Quem passou pela situação sabe o que estou a dizer.

Todos sabemos que esta profissão tem um tempo de vida curto, mas não termina aos 30. Tem mais uns anos pela frente e são a paixão e o prazer de jogar futebol que prolongam a actividade. Noutras situações à que juntar a questão financeira.

Nesta fase da carreira, além da qualidade e rendimento que têm de apresentar, são várias as situações que os jogadores trintões enfrentam.

Por vezes são vistos como ameaças para os treinadores inseguros. No meu entender podem e devem funcionar como a sua extensão no campo, apoio para si e para a equipa nos diversos momentos.

Outro dos papéis que um jogador mais velho pode desempenhar é o de ajudar a integrar os mais jovens. Além disso, deve ter uma boa atitude (por vezes é preciso dar aquelas «duras»…) para com futebolistas que estão num processo de aprendizagem e evolução.

A experiência adquirida pelos mais velhos pode ser importante no crescimento dos mais novos.

Recordo o meu início de carreira e o processo que vivi.

Em Freamunde, era o jogador mais jovem da equipa
(ver foto)

Fui muito bem recebido e durante dois anos aprendi e cresci bastante.

Acima dos trinta anos havia o Ernesto, o Bráulio e muitos na casa dos vinte e muitos anos. Todos eles sem excepção foram importantes na minha evolução.

Chegado ao Vitória de Guimarães, agora na I Liga, passo a ser também o jogador mais jovem da equipa.

Evolui ainda mais e numa equipa experiente onde Jesus e Frederico eram os mais velhos, a relação e o tratamento que recebi de todos eles foi mais uma vez importante na minha evolução e na afirmação que tive como jogador.

Foram quatro anos bem passados. Chego ao Sporting com 24 anos, já com 102 jogos na liga e sete internacionalizações pela selecção principal.

Era já experiente mas cheguei e foi importante ter no balneário jogadores como o Oceano, Carlos Xavier, Marco Aurélio e outros.

Jogar num clube grande com tudo o que isso tem associado de pressão, exigência e ambição, obrigou-me naturalmente a crescer ainda mais e a ser melhor jogador e afirmar-me no panorama nacional.

Nos meus dez anos de Sporting tive a oportunidade de ajudar a integrar, a fazer crescer e participar no desenvolvimento de vários jovens que ainda jogam não só na nossa Liga, como em outras.

De uma forma natural, o meu comportamento, principalmente para com os jovens (porque é deles que falamos), foi o mesmo que outros tiveram comigo, agora num contexto de maior exigência, maior pressão mas sempre preparado para ajudar e apoiar.

Assumi não só eu, mas também outros jogadores experientes, esta atitude para com eles.

Não tenho dúvidas nenhumas de que um ou mais jovens com qualidade, envolvidos numa equipa com experiência, terão maior rendimento quanto mais apoiados e suportados pelos mais velhos. Em momentos complicados, no relvado, onde a bola muitas vezes «queima» e apesar do apoio, não é o treinador ou o dirigente mas sim o jogador mais velho e experiente que marca presença e assume, libertando os mais jovens.

Tentei, e julgo que consegui, ter uma boa atitude para com todos aqueles jovens com quem me cruzei ao longo da carreira. Foi o meu contributo para o seu crescimento e evolução enquanto jogadores e homens.

Como nota final, as declarações de um jovem brasileiro do Paços de Ferreira, este fim de semana, revelam o que acabei de escrever. Fernando Neto não esquece os colegas que o têm apoiado, destacando alguns dos mais velhos. «O careca Tony, o Anunciação e o Ricardo têm sido importantes na minha adaptação. Aproveito a oportunidade para agradecer-lhes o que têm feito por mim, pois o meu sucesso também é o deles».