O primeiro jogo de futebol entre adultos com limitações de cabeceamentos, em Inglaterra, vai realizar-se este mês, em County Durham, no campo do modesto Spennymoor Town, que milita nas divisões regionais do futebol britânico.

O encontro está agendado para dia 26 de setembro (domingo) e vai contar com a presença de antigos futebolistas, obedecendo a várias restrições a jogar de cabeça. Na primeira parte, só vão ser permitidos cabeceamentos dentro da área e, na segunda parte, não vai mesmo ser permitido qualquer cabeceamento.

Gary Lineker, Alan Shearer, Kevin Keegan e Chris Sutton são alguns dos nomes que estão associados ao encontro, tendo apoiado a organização Head for Change, uma fundação de caridade centrada em mudanças positivas para a saúde cerebral no desporto e que apoia ex-desportistas, nomeadamente no futebol e no râguebi, com doenças neurodegenerativas. A Head for Change organiza o jogo com a Solan Connor Fawcett Family Cancer Trust, associação que apoia pessoas afetadas por cancro.

Muitos nomes lendários das décadas de 70, 80 e 90 vão ser convidados a participar no jogo ou, caso não possam fazê-lo, a pelo menos assistir ao mesmo.

Este vai ser o primeiro jogo do género e segue-se a vários estudos que associam o jogar de cabeça à demência, nomeadamente os de Willie Stewart e da sua equipa na Universidade de Glasgow, na Escócia, que descobriram o que apontam como sendo o «elo perdido» entre sucessivos cabeceamentos e doenças neurodegenerativas. O estudo de Stewart aponta que os defesas, que cabeceiam mais bolas, têm um risco cinco vezes maior de desenvolver demência, em comparação com uma pessoa normal. A pesquisa, que não revelou riscos adicionais para guarda-redes, permitiu concluir que quanto mais longa for a carreira – ou seja, quantos mais cabeceamentos forem feitos – maior o risco de doenças associadas ao cérebro.

A Head for Change foi fundada por Judith Gates depois de o seu marido, Bill Gates, antigo jogador do Middlesbrough nas décadas de 60 e 70, ter sido diagnosticado com encefalopatia traumática crónica.

«Muitas conversas nos círculos do futebol são centradas em tornar o jogo mais seguro. A Premier League e outros órgãos governamentais introduziram linhas orientadoras que limitam os cabeceamentos nos treinos. Os jogadores, os treinadores, os clubes e os adeptos estão a questionar-se: “o que é que isso significa para um jogo mais bonito?”, disse Gates, ao Daily Mail. «A todos os níveis do jogo, os jogadores e os treinadores foram instados a experimentar. Em resposta a essas perguntas, a Head for Change concordou que o jogo de caridade em Spennymoor Town ilustraria algumas dessas questões. O que acontece com o jogo quando o cabeceamento só é permitido na área? O que acontece quando a bola não pode ser cabeceada? Esperamos que esta experiência avance o debate e que tanto os jogadores como os adeptos tenham ideias para partilhar como resultado do seu envolvimento», afirmou.

Este tem sido um tema debatido ao longo dos últimos anos, nomeadamente em Inglaterra. Em julho, a Federação Inglesa (FA) anunciou que os jogadores de futebol no país iam passar a ter um limite no número de vezes que podem usar a cabeça para jogar a bola durante os treinos, para evitar danos cerebrais. Nos treinos, o máximo de cabeceamentos foi imposto nos dez, com a FA a definir neste espectro as bolas jogadas a mais de 35 metros, em cruzamentos, cantos ou livres.

Entre vários exemplos, o selecionador de Inglaterra, Gareth Southgate, questionou-se em novembro último sobre a demência no futebol, pouco depois de Bobby Charlton ter sido diagnosticado com demência.

Em 2017, o ex-avançado Alan Shearer participou em pesquisas com a universidade escocesa de Stirling para detetar até que ponto os cabeceamentos influenciam funções do cérebro.