Mais de 80 milhões de paquistaneses devem votar esta segunda-feira em eleições legislativas e provinciais cruciais para a única potência nuclear do mundo muçulmano, que enfrenta uma profunda crise política e uma vaga de atentados presumivelmente ligados à Al-Qaeda, informa a Lusa.

O escrutínio é tanto mais importante quanto o Paquistão tem estado nos últimos meses sob alta vigilância da comunidade internacional.

Os Estados Unidos multiplicaram os comentários e pressões sobre o presidente Pervez Musharraf, seu aliado chave na «guerra contra o terrorismo», considerando Washington que os fundamentalistas ameaçam um Estado essencial para a estabilidade da região e que a Al-Qaeda e os talibãs reconstituíram as suas forças na zonas tribais do noroeste paquistanês que faz fronteira com o Afeganistão.

O cenário «ideal» caiu por terra a 27 de Dezembro quando a ex-primeira-ministra e líder da oposição, Benazir Bhutto, foi assassinada num atentado suicida. Sob pressão norte-americana, Musharraf negociava com Bhutto uma partilha de poder por ocasião das legislativas previstas na altura para 8 de Janeiro.

Paquistão: mais uma explosão antes das eleições

Bhutto morreu com impacto da explosão

O escrutínio foi adiado para 18 de Fevereiro, mas o Partido do Povo Paquistanês (PPP) conduzido agora pelo viúvo de Bhutto, Asif Ali Zardari, tem alertado para a possibilidade de fraude eleitoral.

Dezenas de milhares de soldados foram destacados para todo o país como reforço para assegurar a segurança das 64.000 assembleias de voto e do milhar de observadores internacionais e de jornalistas.

A demonstração de força acontece durante a maior vaga de atentados, sobretudo suicidas, que afecta o país há meses.

Os bombistas suicidas presumivelmente de grupos próximos da Al-Qaeda e dos talibãs fizeram de 2007 o ano mais mortífero da história do Paquistão em termos de terrorismo, com mais de 800 mortos. Uma centena de pessoas morreu em atentados desde o início deste ano.

Nesta República islâmica com cerca de 160 milhões de habitantes, a campanha eleitoral foi fraca, sobretudo depois da morte de Bhutto, com os políticos a recearem organizar grandes comícios e os paquistaneses mais preocupados com a degradação rápida do seu poder de compra e a sua segurança que com as lutas políticas.

Os paquistaneses em Portugal, tal como os restantes emigrantes do país, podem votar nas eleições de segunda-feira, desde que tenham no mínimo 18 anos e que se inscrevam através da Comissão Eleitoral para votar por correspondência, segundo Sohail Siddiqui, primeira secretária da embaixada do Paquistão em Portugal.

A diplomata informou ainda que os votos do estrangeiro são contados no círculo eleitoral de origem do emigrante.

Em Portugal são 4 mil votantes

Em Portugal, vivem cerca de 4.000 paquistaneses, a maioria na zona da grande Lisboa. Um número elevado trabalha nos sectores das telecomunicações e construção, enquanto alguns são comerciantes, ainda de acordo com a embaixada.

Atentados no Paquistão visando candidatos ou comícios nos últimos dias da campanha fazem recear uma alta taxa de abstenção nas eleições.

O pior pode acontecer, no entanto, após o escrutínio, tendo a oposição apelado a manifestações em massa em caso de fraude.