Marcelino García Toral tem décadas de experiência no futebol. Como jogador, primeiro, e como treinador, depois, habitou-se a situações de pressão e a desafios difíceis. Mas nada o preparou para o que viveu em Marselha, nos dois meses em que foi treinador do Olympique.

Agora, um mês depois de sair do clube, devido às tremendas pressões dos adeptos radicais, falou ao jornal francês L’Equipe. Entrevista concedida em Madrid, longo das confusões de Marselha. Longe e, ainda assim, tão perto:

«Estou melhor do que há três semanas» - afirmou.«Mas eu e a minha equipa ainda estamos zangados porque não nos deixaram trabalhar. Foi uma situação irreal e sufocante. Estes adeptos radicais têm tanta influência, e estou convencido de que a maioria dos adeptos pensa de forma diferente, que até se opõe a esta forma de atuar. Mas é algo que permitimos durante anos. E hoje é difícil de erradicar.»

Para Marcelino García foi uma situação inédita. «Estive 20 anos como treinador, e quase 20 anos como jogador profissional antes disso, e nunca vi nada assim na minha vida. E acho que não voltarei a ver. Pelo menos, espero que não», afirmou.

O técnico espanhol entende que aquela forma de atuar, as ameaças a dirigentes e treinadores, não pode existir num país civilizado. «O futebol é paixão, é certo, mas tem limites», considerou.

O ex-técnico do Marselha recordou que recebeu uma chamada do então presidente do clube (o também espanhol Pablo Longoria) a relatar que ele e outros diretores tinham recebido ameaças e estavam a ser obrigados a abandonar os cargos. O caso fez com que todos ficassem «zangados, desiludidos e tristes», afiançou.

Por tudo o que viveu, na curta experiência que teve em França, Marcelino acredita que o Marselha «é um clube onde é absolutamente impossível criar um projeto». E vai mais longe: «Como os resultados demonstram há muito tempo, é um clube que, em vez de evoluir, está a regredir», concluiu.