Jordan Henderson, médio inglês de 33 anos, agora no Al Ettifaq, concedeu uma longa entrevista ao ‘The Athletic’, na qual abordou diversos temas, como a saída do Liverpool e a consequente mudança para a Arábia Saudita, assim como as causas LGBTQ+, das quais é defensor, uma vez naquele país a homossexualidade é proibida.

Muitos jogadores são acusados de ir jogar para o Médio Oriente pela questão financeira. Henderson garante não ser esse o seu caso: o médio diz ter-se sentido desejado, sobretudo pelo treinador Steven Gerrard, com quem partilhou balneário no Liverpool.

«Queria algo que me entusiasmasse. Mas tinha de ser algo em que eu sentisse que podia acrescentar valor, fazer e experimentar algo novo - um novo desafio e por razões diferentes. E esta oportunidade com o Stevie (Gerrard) numa liga e cultura totalmente diferentes foi algo completamente diferente (...) É bom sentirmo-nos desejados. Sei que o Stevie me queria muito. O dinheiro nunca foi uma motivação», justificou.

Para além do novo desafio, Henderson explica que iria perder espaço no plantel do clube inglês, devido à chegada de novos médios, como, de resto, se veio a confirmar com as contratações de Mac Allister ao Brighton e Dominik Szoboszlai ao Leipzig. Por isso, receava ter poucos minutos, até porque o Europeu está a aproximar-se No entanto, mantém uma relação «muito boa» com Jürgen Klopp, treinador germânico dos reds e que sempre «muito honesto».

«Tenho uma relação muito boa com o Jürgen. Ele foi muito honesto comigo. Não vou entrar em pormenores sobre a conversa porque é privada, mas colocou-me numa posição em que sabia que não ia jogar tanto muito. Sabia que iam entrar novos jogadores na minha posição», explicou, prosseguindo a justificação com o seu lugar na seleção inglesa.

«Estou num clube há tanto tempo, onde fui capitão de equipa. A seleção é uma coisa importante para mim. Vem aí o Campeonato da Europa. E depois houve uma abordagem do Al Ettifaq ao Liverpool para ver se seria possível eu ir para lá. Estou na fase final da minha carreira e quero ser feliz a jogar futebol. Quero jogar. Não quero estar sentado no banco e entrar em campo durante 10 minutos nos jogos. E eu sabia que isso iria afetar as minhas hipóteses de jogar pela Inglaterra», referiu.

Recorde-se que Southgate já havia clarificado a situação do jogador: afirmou que «seria estúpido descartar Henderson por ir para a Arábia».

Questionado sobre se era verdade que recebia cerca de 700.000 libras (cerca de 820.000 euros) por semana, o inglês negou prontamente: «Não. Quem me dera que fosse (risos). Mas, mais uma vez, também tinha de servir financeiramente para nós. Não estou a dizer que não tenha servido, mas não foram esses os números comunicados.»

«Se eu usar a braçadeira arco-íris, se isso desrespeitar a religião deles, também não está certo»

A questão LGBTQ+ foi também um tema quente, dado que a homossexualidade é proibida na Arábia Saudita. A notícia provocou uma reação negativa por parte de grupos de adeptos e grupos de defesa dos direitos da comunidade LGBTQ+, que lhe pediram para não aceitar a proposta dos sauditas. Henderson, que era conhecido por ser um ativista dos direitos homossexuais, aproveitou a entrevista para esclarecer esse assunto.

«Foi uma altura difícil, sem dúvida. Não me interpretem mal, não quero que as pessoas sintam pena de mim. Foi apenas difícil tomar essa decisão. Estava num clube há tanto tempo, um clube que adoro e pelo qual tenho muito respeito: os adeptos, os proprietários, o treinador, os meus colegas de equipa. Mas, no final, senti que era a coisa certa para eles também. O facto de as pessoas me criticarem e dizerem que lhes virei as costas magoou-me muito, muito», atirou.

Na entrevista foi ainda abordada a questão do vídeo da apresentação do médio no Al-Ettifaq, no qual surge numa fotografia a atuar pelo Liverpool com uma braçadeira arco-íris e que foi ‘exibida’ a preto e branco. Henderson diz não ter tido conhecimento até ser público: «Não sabia nada sobre o vídeo até ser lançado. E é difícil para mim saber e compreender tudo porque faz parte da religião. Por isso, se eu usar a braçadeira arco-íris, se isso desrespeitar a religião deles, também não está certo. Toda a gente deve respeitar a religião e da cultura. É por isso que estamos todos a tentar lutar, em termos de inclusão e tudo o mais.»

De acordo com o que já foi noticiado, Neymar e Cristiano Ronaldo, jogadores que também estão no campeonato saudita, alegadamente receberão uma compensação monetária por fazerem publicidade ao país. Contudo, diz Henderson, isso não se aplica a si.

«Não. Tudo o que estava previsto contratualmente tinha a ver com o futebol. Mas há muitas coisas que são divulgadas nos meios de comunicação social e nas redes sociais. E aprendi ao longo dos anos que não se sabe o que é verdade e o que não é», concluiu.