Kate McCann revela no livro «Madeleine», lançado hoje em Londres, que a Polícia Judiciária (PJ) lhe propôs que confessasse ter escondido o corpo da filha, após a «morte da criança num acidente no apartamento da Praia da Luz», Algarve.

A mãe de Madeleine, que escreveu o livro para «transmitir a verdade» e «a visão dos acontecimentos» dos pais da criança inglesa desaparecida em 2007, refere no capítulo que intitulou «No Reino da Fantasia» que a proposta da PJ visava tornar a sentença «muito mais indulgente».

Kate McCann escreve «apenas dois anos», contando que o advogado Carlos Pinto Abreu, que o casal contratou meses depois do desaparecimento da filha, lhe disse que se ela não aceitasse a proposta da PJ seria «acusada de homicídio».

Leia o excerto, abaixo:

«O Carlos anunciou o que a polícia tinha proposto. Se nós, ou melhor, eu, admitisse que a Madeleine tinha morrido num acidente no apartamento, e confessasse ter escondido o corpo e depois ter-me desfeito dele, a sentença que receberia seria muito mais indulgente: apenas dois anos, disse, por oposição ao que me esperaria se fosse acusada de homicídio.

Perdão? Não tive sinceramente a certeza de tê-lo ouvido bem. A minha incredulidade transformou-se em raiva. Como se atrevia ele a sugerir que eu estava a mentir? Como se atrevia ele a esperar que eu pudesse viver com uma acusação daquelas? E mais importante ainda, estariam realmente à espera que eu confessasse um crime que eles tinham inventado, que afirmasse falsamente perante o mundo inteiro que a minha filha estava morta quando o resultado seria que o mundo inteiro deixaria de a procurar? Aquela táctica da polícia podia ter resultado no passado, mas não ia de certeza resultar comigo. Só por cima do meu cadáver.»