Prestes a cumprir mil jogos na carreira, na receção da Roma ao Sassuolo este domingo, José Mourinho conta já com um currículo recheado de títulos e histórias para contar.

No futebol profissional, tudo começou na temporada 1990/91: Mourinho treinava os juniores do Vitória de Setúbal, Manuel Fernandes os seniores. Quando o antigo avançado do Sporting foi contratado pelo Estrela da Amadora, só tinha um adjunto em mente.

«Eu treinava a equipa principal e ele [Mourinho] orientava os juniores [do Vitória]. Na altura, havia o campeonato de reservas, que também era importante, e eu precisava sempre de metade dos juniores para jogar com as reservas. Assim, assisti a muitos treinos dele e conversávamos sobre os atletas que poderia indicar para as reservas. Fui começando a gostar da sua forma de trabalhar e lidar com os miúdos», afirmou, à Lusa.

«A primeira pessoa que me lembrei para trabalhar comigo [no Estrela] foi ele, mesmo sendo professor do ensino secundário e estando a dar aulas numa escola em Alhos Vedros. Respondeu-me logo: ‘mister’, é para já. Peço uma licença sem vencimento e vou trabalhar consigo», acrescentou.

Manuel Fernandes e José Mourinho reencontraram-se no Sporting, anos mais tarde, onde o Special One conheceu Bobby Robson. O resto, como se diz, é história.

Depois de várias temporadas como adjunto, o Benfica decidiu contratar o agora timoneiro da Roma em 2000/01. Após 11 jogos, Manuel Vilarinho substituiu Vale e Azevedo na presidência e Mourinho foi substituído por Toni. Daí até ao FC Porto, onde chegou em janeiro de 2002, foi um instante, com uma passagem pela União de Leiria primeiro.

Nos Dragões, entre outros títulos, venceu a histórica Liga dos Campeões, batendo na final o Mónaco por 3-0.

«O grupo estava tão confiante, que ele falou normalmente e já sabia aquilo que faziam os jogadores do Mónaco. Ludovic Giuly e Jérôme Rothen eram peças-chave. Se Costinha e Nuno Valente os marcassem, 50% da equipa estava controlada. Via-se nos semblantes que estávamos muito tranquilos. Parecia um FC Porto-Benfica, em que estamos a jogar em casa e sabemos que o resultado será positivo», contou Maciel, antigo extremo dos azuis e brancos.

Do FC Porto para o Chelsea, onde fez os blues regressarem aos títulos 50 anos depois, e depois para o Inter de Milão, onde voltou a ser campeão europeu, num «ano épico», segundo o adjunto José Morais.

«Foi um ano difícil, mas feliz, e no qual se ganhou tudo. O grupo tinha muita experiência, mas também jogadores já numa idade de grande maturidade», começou por recordar.

«Só tenho coisas positivas a recordar: a capacidade de organização, a liderança, a forma como conduzia um jogo, a energia e o humor no grupo e o cuidado em saber se estava tudo a correr bem. Até nos momentos de maior pressão, aquele modo como relativizava as coisas e nos fazia sentir confiantes quando tínhamos jogos difíceis. Tudo isso acabou por ser uma surpresa. Estando com ele, fui percebendo que dimensão tinha», afirmou.

Seguiu-se depois o colosso Real Madrid, onde Mourinho travou uma batalha intensa com Pep Guardiola e conseguiu quebrar a hegemonia desse Barcelona – os merengues foram campeões em 11/12 –, que tinha Messi como figura central.

«Esse ano foi espetacular. Depois de a equipa ter adquirido no primeiro ano aqueles hábitos de trabalho, que, se calhar, já não estava habituada, começou a sentir-se bem e adquiriu tanta fluidez de processos que arrasou. Até o Guardiola pensou em fazer uma pausa na carreira para não perder credibilidade no ano seguinte», ironizou José Morais.

Agora, e já com nova passagem pelo Chelsea no currículo, além das aventuras no Manchester United e no Tottenham, José Mourinho prepara-se para atingir a marca redonda dos mil jogos na carreira, ao serviço da Roma.