O jogo de aflitos no Bessa terminou em empate: um 1-1 justo, embora com influência do árbitro no resultado final (já lá vamos).

O Boavista aparecia mais aflito do que o Estoril, diga-se. Há oito jogos que não vencia na Liga e perdeu os últimos quatro jogos (o último com direito a protesto), teve uma mudança de treinador e está três pontos acima da zona de despromoção. O Estoril tem mais seis pontos, mas também não está tranquilo; e os números comprovam-no: quatro empates e três derrotas nos últimos sete jogos na Liga. A equipa de Fabiano Soares não vence para a Liga há dois meses e meio, tal como a de Erwin Sánchez, que se estreou hoje no banco.

Para as duas equipas foi portanto um mal menor o empate. Mas, vamos ao jogo…

DESTAQUES: Habilidade de Gerso a contrastar com a falta de jeito de Tiago Antunes

No Bessa, chegou a hora do mestre Erwin Sánchez e com o novo treinador o Boavista parece uma equipa não apenas de combate, como era com Petit; existe agora uma maior preocupação com a estratégia ofensiva.

Na estreia no banco, além de trocar de guarda-redes Mika por Gideão e de deixar de fora Zé Manuel, o técnico boliviano decidiu mexer no tabuleiro dos axadrezados e mudou logo o sistema. Trocou o 4-3-3 por um 4-4-2 losango, fazendo entrar Ancelmo Júnior na equipa para apoiar a dupla de avançados Douglas Abner e Uche Nwofor.

A alteração tática deu resultado e o habitual Boavista de contenção e transições rápidas deu lugar a uma equipa com futebol apoiado, capacidade de segurar a posse de bola e de fazer pressão quando não a tinha.

Mereceu inaugurar o marcador a equipa axadrezada. E que golo! Uche estreou-se a marcar pelo Boavista em grande estilo. O ponta-de-lança nigeriano vindo do Lierse aproveitou um desentendimento entre os centrais estorilistas para, à entrada da área, encher o pé e rematar com potência, com a bola a bater na barra ainda antes de cruzar a linha de golo.

1-0 e o Boavista por cima do jogo a meio da primeira parte. Tudo parecia encaminhar-se para o primeiro resultado positivo para os axadrezados depois de quatro derrotas para a Liga.

A mão que virou o tabuleiro
Foi aí que apareceu o árbitro de Coimbra Tiago Antunes para virar o tabuleiro e desequilibrar a partida.

Antes disso, surgiu a ingenuidade de Inkoom que em duas faltas sobre Gerso viu dois cartões amarelos no espaço de um quarto de hora. O árbitro demorou, demorou e quando se decidiu deixou o Boavista a jogar com menos um.

Sánchez entrou em modo “controlo de danos”, trocou o ponta-de-lança por um lateral e o Boavista manteve o domínio do seu espaço defensivo ante um Estoril com fragilidades evidentes em construir de outra forma que não pelo lado esquerdo do ataque, através de Gerso…

Até que lá apareceu de novo Tiago Antunes com uma decisão que não só era contestável como errada e com influência direta no resultado. O árbitro descobriu uma mão de Henrique na área (a bola bate primeiro na perna e depois no tronco do central antes de ir ao braço, num lance em que o jogador do Boavista não age de forma deliberada).

Léo Bonatini aproveitou para da marca dos 11 metros fazer o empate em cima do intervalo.

Estava restabelecido o equilíbrio no marcador. Já o desequilíbrio no jogo notar-se-ia mais na segunda parte, quando o Estoril aproveitou o jogador que tinha a mais para partir para cima do Boavista, que explorou o contra-ataque com a entrada de Zé Manuel.

Esteve mais perto do golo da vitória a equipa da Linha; num desvio de Henrique, que quase fez golo na própria baliza, por Diego Carlos, que cabeceou por cima, ou até por Dieguinho, que rematou para fora após falhanço de Gideão…

Facto é que o Boavista também podia ter marcado, quando Abner e Zé Manuel decidiram aproveitar os 50 metros que tinham para correr na metade do campo do adversário e desperdiçarem a melhor oportunidade da segunda parte.

Não houve ainda assim muitas mais situações para desfazer o empate. O que houve foi mais alguns equívocos do árbitro: enganou-se ao expulsar Babanco em vez de Taira (com segundo amarelo), voltando atrás para corrigir a decisão logo de seguida, e terá de assumir ainda a responsabilidade por nada assinalar quando Zé Manuel caiu na área do Estoril, num lance levanta muitas dúvidas já bem perto do final do jogo.

Deu empate, mas Sánchez pode quase que cantar vitória, porque mexeu bem no xadrez, jogou quase uma hora com menos uma peça e quebrou o ciclo de quatro derrotas.

Fica, no entanto, a dúvida: como teria sido esta partida se Tiago Antunes não tivesse mexido no tabuleiro e decidido ser protagonista?