Havia uma expetativa para este jogo: será que o Sporting consegue adiar a festa do Benfica? A dúvida ficou desfeita nos primeiros 58 segundos de jogo, com o décimo golo da época de Slimani, dando os três pontos aos leões e tratando de avisar os encarnados que podiam guardar o champanhe no congelador durante mais uma semana. Uma coisa é certa: não vai haver festa do título em Aveiro.

Não pensem os adeptos leoninos que estou a desconsiderá-los ao iniciar um texto sobre o desafio com o Gil Vicente falando do rival do outro lado da segunda circular, mas pouco mais há a dizer desta hora e meia de futebol (e claro que «matematicamente ainda é possível sonhar», como sublinha Cédric). A equipa de Leonardo Jardim arrumou o assunto principal rapidamente e o adversário pouco fez para incomodar. Pelo meio, os gilistas pouco ou nada fizeram para incomodar Rui Patrício, e ainda viram Héldon fechar o marcador em 2-0 praticamente na última jogada do desafio.

Há um outro dado relevante a realçar e que dá redobrada felicidade aos sportinguistas: com esta vitória, a equipa fica apenas a dois pontos de celebrar o segundo lugar e a consequente passagem direta à fase de grupos da Liga dos Campeões. Iguala também o melhor ciclo da época, com cinco vitórias consecutivas no campeonato.

A leitura de jogo de Leonardo Jardim resume na perfeição o que se passou: «O 1-0 veio muito cedo, o Sporting teve ritmo baixo. Jogámos muito posicionais, com pouca dinâmica, pouca mobilidade. Isso permitiu que o adversário de vez em quando saísse. O Mané não estava a 100 por cento. Houve algum défice de intensidade. Depois da entrada de André Martins estivemos mais fortes e acabámos por fazer o 2-0. O Gil Vicente não obrigou Rui Patrício a uma defesa.»

Um jogo para Carrillo brilhar

Leonardo Jardim decidiu dar uma oportunidade a Carrillo, deixando André Martins no banco e fazendo variar Carlos Mané para o meio-campo, onde passou a atuar logo atrás de Slimini. João de Deus decidiu colocar Vítor Vinha no lado esquerda da defesa, enviando Luís Martins para o banco, mas a estratégia falhou e logo aos 58 segundos de jogo o Sporting mostrou que a solução para resolver o jogo era demasiado fácil: passe rasgado de Cédric, Carrillo escapa-se pela lateral e cruza para a área, onde surge o argelino, letal como sempre, a cabecear para o 1-0. Demasiado fácil.

O Sporting viria a repetir a fórmula inúmeras vezes, sempre com a mesma combinação. Mané e Carrillo trocavam posições na direita, o primeiro vinha para o meio, o peruano para o extremo e Cédric abria no espaço aberto. A equipa rapidamente percebeu esta oportunidade e até Marcos Rojo fez um grande passe na diagonal para o extremo, que arrancou aplausos de admiração da bancada. Nem com a lesão de Vítor Vinha aos 25 minutos, que fez entrar Luís Martins, esta situação mudou, mas o resultado nunca mais foi o mesmo, simplesmente porque Slimani não viria a ter nova oportunidade para rematar com eficácia à baliza de Adriano.

Perante um meio-campo do Gil Vicente inexistente, onde apenas Keita dava ligeira resistência (e quase sempre no apoio aos centrais), William Carvalho teve a noite ideal para voltar a experimentar as iniciativas ofensivas e até rematou de fora da área com perigo aos 33 minutos. Adrien apenas se limitou a fazer circular a bola e Carlos Mané dedicou-se a tentar construir desequilíbrios no apoio ao ponta-de-lança, surgindo algo cansado no segundo tempo, o que levou Leonardo a substitui-lo cedo (60m) por André Martins.

Muito tímida e com uma tática difícil de entender, pela ineficácia das transições para o ataque e cruzamentos sem sentido para uma área deserta, a equipa de João de Deus teve o primeiro canto aos 42 minutos e a primeira defesa de Rui Patrício só surgiu na segunda parte (aos 62m). Mas claro que João de Deus tem a lamentar aquele golo sofrido tão cedo.


Grande momento de Marcos Rojo

Já com André Martins no lugar de Carlos Mané, o jogo viria a tornar-se um pouco mais vivo e aos 63 minutos Alvalade assistiria a um dos grandes momentos da noite, que por mera infelicidade não se transformou num lance memorável, candidato a percorrer todo o mundo. Marcos Rojo arrisca-se no ataque e, embalado, desfere um daqueles remates que saem uma vez na vida, enviando a bola ao poste. Todos abrem a boca de espante. Seria um golo fantástico.

Os leões nunca tiveram de suar para ganhar este jogo. Marcaram logo no primeiro minuto, encontraram um adversário macio e quando quiseram acelerar foram criando oportunidades, levando Adriano a ser um dos destaques positivos do adversário. A lamentar haverá o cartão amarelo de Cédric, por uma falta desnecessária, que o afastará do jogo da próxima jornada no Restelo, com o Belenenses. Do lado contrário também há um cartão que fará a diferença, uma vez que foi o quinto visto por Gabriel e assim o lateral-direito vai falhar o seu primeiro jogo da temporada, quando era o único elemento de campo totalista em toda a Liga.

Até ao fim, um par de oportunidades para cada lado, mas nenhum verdadeiro susto para os guarda-redes, até que Montero decide acelerar o jogo já no segundo minuto dos descontos, serve Carrillo na direita e este cruza rasteio para o segundo poste, onde surge Heldon para fazer o 2-0. O cabo-verdiano agradece aos céus o primeiro golo com a camisola do Sporting e os adeptos vão mais satisfeitos para casa, sabendo que pelo menos no próximo domingo ainda vão poder passar tranquilamente pelo Marquês de Pombal.

Para o Gil Vicente, a dura realidade de ter de continuar a batalhar pela manutenção, como admitiu o seu treinador: «Temos três jogos, dois deles em casa, teremos de conquistar mais três pontos e é isso que vamos fazer».