O Benfica goleou o Arouca este domingo com uma mão cheia de golos no último jogo da temporada no Estádio da Luz num jogo que resultou num guião perfeito para a anunciada despedida de Rafa Silva. O antigo internacional português recusou marcar os dois primeiros penáltis que deram vantagem à equipa de Roger Schmidt, mas depois marcou os dois golos seguintes, com classe, e ainda fez uma assistência para o quinto golo. Uma grande exibição do número 27 no adeus ao Inferno da Luz, num jogo que ficou ainda marcado pelo evidente divórcio entre as claques e os restantes adeptos do clube.

Confira a FICHA DO JOGO e os VÍDEOS DOS GOLOS

Roger Schmidt fez apenas duas alterações em relação ao desaire em Famalicão (0-2), recuperando Florentino Luís e, lá está, Rafa Silva, para os lugares dos lesionados David Neres e Marcos Leonardo, mas deixou antever, logo na divulgação do onze inicial, que este seria um jogo direcionado para Rafa Silva brilhar. Sem um avançado de raiz de início, Rafa Silva voltava a ser a principal referência do ataque do Benfica, apoiado direitamente por uma guarda de honra constituída por João Mário, Kökçü e Di María.

O Benfica já não tinha nada a perder e muito menos a ganhar, mas o Arouca ainda ambicionava subir mais um degrau na classificação e, assim, chegar à Europa. Daniel Sousa, mais uma vez privado de Rafa Mujica [a caminho do Qatar], apostou no bielorusso Marozau no ataque, mas remodelou, acima de tudo, o setor defensivo da equipa.

O jogo começou com as claques do Benfica em silêncio, mais uma vez em protesto, mas com um forte apoio à equipa, sobretudo direcionado a Rafa Silva, da parte dos restantes adeptos. Começou também com uma estratégia ousada de Daniel Sousa, com o Arouca a entrar em campo com um bloco muito alto, mantendo os parâmetros que a equipa utilizou com sucesso ao longo da época, mas não deixava de ser uma tática arrojada, a jogar em casa do Benfica. A verdade é que, nos instantes iniciais, o plano delineado por Daniel Sousa parecia estar a resultar, com a sua equipa a conseguir manietar o Benfica, sobretudo na forma como conseguia condicionar a saída de bola da equipa de Roger Schmidt.

Mas foi apenas por alguns minutos. Assim que o Benfica descobriu a porta de saída, encontrou muito espaço nas costas da equipa amarela e as oportunidades multiplicaram-se em catadupa. Rafa Silva, o protagonista deste jogo, por antecipação, foi o primeiro a testar Arruabarrena, com duas oportunidades consecutivas, a primeira por cima da trave, a segunda a obrigar o guarda-redes uruguaio a voar para adiar o primeiro golo da tarde.

O Benfica começou devagar, mas em dois tempos, entrou em modo supersónico, diante de um Arouca de tração à frente, sem braços e pernas para travar o volume das incursões encarnadas, com Di María e João Mário a alargarem a frente de ataque sobre as alas. João Neves, de cabeça, esteve perto de marcar, Di María também e João Mário chegou a desviar uma bola para o poste.

Apenas a falta de eficácia do Benfica mantinha o teimoso nulo intacto até que, aos 23 minutos, surgiu o primeiro penálti do jogo, com Bambu a levar a mão à bola, ao tyentar pressionar João Mário sobre a linha final. O estádio levantou-se a gritar o nome de Rafa e Di María, com a bola na mão, foi entregar a bola ao português que, por sua vez, recusou recebê-la. Foi mesmo o argentino que, com classe, abriu o marcador. Logo a seguir, o Estádio da Luz levantou-se em peso, ao minuto 27, para homenagear,  mais uma vez, Rafa Silva, aplaudido de pé no momento em que o ponteiro dos minutos apontou para o número da sua camisola. Grande tributo, mas o melhor estava ainda para vir.

Bola ao centro e, seis minutos volvidos, novo penálti, desta vez com Arrubarrena a derrubar ostensivamente Kökçü na área. Repetiu-se a mesma história do primeiro penálti, com os adeptos a levantaram-se a pedir que fosse Rafa a marcar, mas o português voltou a recusar a bola que Kökçü lhe foi entregar e foi mesmo o turco que fez o 2-0. O Benfica estava lançado para uma vitória tranquila, até porque, nesta altura, a estratégia do Arouca já não produzia qualquer efeito sobre o relvado. A equipa de Daniel Sousa estava completamente à deriva.

Rafa com atuação para Oscar

Só depois deste segundo golo, ultrapassada a primeira meia-hora de jogo, é que as claques do Benfica despertaram, mas para protestar e arremessar mais tochas para o relvado. Os restantes adeptos não gostaram e deixaram isso bem claro num assombroso coro de assobios, a deixar bem evidente o divórcio entre os adeptos normais e os grupos organizados. O jogo prosseguiu no relvado, com o Benfica a carregar e Rafa a mostrar porque é não quis marcar os penáltis. O número 27, recebeu uma bola de Kökçü e rematou ao ângulo, para delírio dos adeptos. Um grande golo, bem mais valioso do que um simples pontapé desde a marca dos onze metros. Até parecia que Rafa já sabia o que ia acontecer.

O Benfica chegava ao intervalo dono e senhor do jogo e, se havia ainda alguma dúvida, Rafa repetiu a dose logo a abrir a segunda parte, mais uma vez, com um grande golo, o quarto do Benfica. Rafa recebeu a bola de costas para a baliza, rodopiou, contornou Javi Montero e picou a bola sobre Arruabarrena. Que classe! Rafa comemorou a fazer continência, como fazia Pizzi, e a Luz quase veio abaixo mais uma vez. O jogo acabava aqui. O Arouca deixou cair os braços e o Benfica entrou em modo de treino, com um jogo mais pausado, mas sem nunca abdicar do controlo.

Di María voltou a levantar o estádio, com um belo chapéu a Arruabarrena, mas o golo acabaria por ser anulado, uma vez que Rafa, que fez a assistência, estava adiantado (37 centímetros). Logo a seguir, com o Arouca completamente perdido, João Neves também tentou um chapéu, mas a bola passou caprichosamente ao lado.

O Arouca ainda voltou a espevitar, depois das primeiras alterações promovidas por Daniel Sousa. Cristo Gonzalez teve uma boa oportunidade para marcar, mas foi o Benfica que chegou à mão cheia de golos, com Tengstedt, acabado de entrar, lançado por Rafa, a contornar Arruabarrena e a atirar para as redes vazias. As claques voltaram a atirar tochas para o relvado e a dirigir insultos ao presidente Rui Costa, mas voltaram a ser contrariadas pela maioria dos adeptos que abafaram por completo os cânticos injuriosos com assobios.

Um duelo aceso que só não teve mais proporções porque o Benfica continuava a proporcionar espetáculo sobre o relvado e, aos 84 minutos, a Luz voltou a levantar-se para aplaudir, por uma última vez, Rafa Silva, rendido, simbolicamente, pelo jovem João Rêgo. O passado dava a vez ao futuro na Luz. Rafa, já depois de deixar o campo, apontou para a zona das claques e voltou a incentivar os adeptos a aplaudir. A Luz respondeu com mais uma estrondosa ovação.

Um domingo totalmente dedicado a Rafa Silva, do princípio ao fim, num guião perfeito que a Luz não vai esquecer tão cedo.