Quando Chidozie incorporou Beckenbauer para um passe a 50 metros e Hamache sentiu que podia ser Bergkamp na receção e no golo, todos no Bessa perceberam que dificilmente o Boavista não ganharia ao Santa Clara.

Talvez seja o grito do público. Talvez seja o peso histórico das bancadas vertiginosas. Talvez seja só a beleza dos quadradinhos a preto e banco. A verdade é que a equipa de João Pedro Sousa parece possuída por figuras de um passado ilustre – Sanchez, Timofte, Litos, Jorge Couto, todos estarão orgulhosos – e está a jogar a um nível que poucos julgariam possível.

Com um plantel a crescer bocadinho a bocadinho e uma forma de atuar muito consciente, o Boavista disfarça as limitações com tudo aquilo que pode. Competitividade máxima, solidez a defender, algum talento e eficácia, muita eficácia.

A jogar com três centrais - Javi Garcia, Chidozie e Abascal -, o Boavista foi perigoso e explorou na perfeição a inspiração de Nathan e Hamache, laterais de vocação muito ofensiva. Tudo resultou em pleno para João Pedro Sousa.

FICHA DE JOGO E AO MINUTO NO BESSA

É assim que se explica esta capacidade já muito interessante de dar a volta a uma equipa, em teoria, superior como é o Santa Clara. O Boavista não desesperou com a melhor entrada dos açorianos no jogo. Muito mais confortáveis com bola, repletos de bons executantes, os visitantes acreditaram que o adversário iria ceder a qualquer instante. Debalde.

À passagem da meia-hora, quando até já estava mais organizado e a equilibrar, o Boavista teve o tal momento Beckenbauer – Bergkamp levado à cena pela companhia Chidozie & Hamache, lda. Um monumento de golo, para ver, rever e aplaudir. Como o Bessa fez, de resto.

Ora, adivinhando que o Santa Clara acusaria o toque do golo, o Boavista apertou a pressão, forçou o erro do adversário e as oportunidades começaram a rondar a baliza de Marco. Não surpreendeu, na verdade, o 2-0 logo no reatamento. Mérito total de Kenji Gorré a servir o omnipresente Gustavo Sauer para o pontapé perfeito.

DESTAQUES DO JOGO: Chidozie por todo o lado

Não nos esquecemos que o Santa Clara estava com o corpo no Bessa e parte da mente em Belgrado. Daniel Ramos fez muitas mexidas – o influente Morita nem no banco esteve – e quando foi preciso mais do que talento com bola, a equipa não foi capaz de o oferecer ao jogo.

Que tenha guardado a inspiração, a capacidade física e os golos para a visita ao Partizan.

O Boavista chega aos seis pontos em três jogos. Mas, mais do que isso, chega ao final de agosto com a sua equipa já nos corações dos adeptos.

O Bessa voltou a gritar por quem mais ama. E isso só pode ser bom para o campeonato português. Uma ameaça de Boavistão.