É uma aflição, isto da luta pela manutenção.

Cada jogo que passa pode ser uma oportunidade perdida. Ou um renovar de esperança.

A ansiedade por vezes cresce e a competência absoluta para não errar emerge, no meio de quem tanto precisa de pontuar.

E por vezes um só erro, um só lapso, pode ser um castigo tremendo.

Foi, de certo modo, o que aconteceu ao Santa Clara em Paços de Ferreira. Um castigo máximo. Um penálti de Antunes, aos 54 minutos, decidiu o duelo de aflitos e acentuou a luz da esperança do castor. A lanterna indesejada fica agora do lado do açor.

O Paços foi globalmente melhor, deveu até a si uma maior tranquilidade e quase sofreu o empate no último lance, mas acaba a igualar os 15 pontos do Santa Clara. Pela primeira vez, ao fim de mais de quatro meses e meio, deixa o último lugar: garante vantagem no confronto direto e fica à espera (Santa Clara também, diga-se) do que o Marítimo, que tem 16 pontos, faça na receção ao Benfica.

Em Paços de Ferreira, era daqueles jogos em que se jogava pela vida e, se César Peixoto apostou no mesmo onze face à custosa derrota com o Casa Pia, Accioly fez uma revolução no Santa Clara, com sete alterações, três delas na linha defensiva e os três homens da frente.

A primeira parte terminou com o 0-0, mas pode dizer-se que o marcador foi mesmo o mais equilibrado dos primeiros 45 minutos.

O Paços teve mais bola (63-37), mais cantos (6-0) e mais remates (7-4) estatísticas que ilustraram um período em que a equipa de César Peixoto atacou mais, esteve mais presente no meio-campo ofensivo e criou mais perigo.

Em sete minutos, o Paços teve quatro cantos e Paulo Bernardo uma grande ocasião na área, defendida por Gabriel Batista, que pouco depois viu o médio cedido pelo Benfica desperdiçar de cabeça, solto na área, após cruzamento de Antunes (13m).

Pelo meio, o Santa Clara teve uma excelente saída a partir do guarda-redes e Walter González obrigou Marafona a aplicar-se, mas o guardião não teve mais trabalho até ao intervalo, até porque na outra chegada perigosa dos açorianos, graças a um bom lance de Allano, Rui Pires cortou de forma decisiva (19m).

Com Nigel Thomas, Holsgrove, Paulo Bernardo e Gaitán em maior evidência no terço ofensivo, o Paços foi tendo ligeiro domínio e voltou a cheirar o 1-0 num belíssimo lance de Holgrove com Gaitán, que acabou com um corte de Ygor Nogueira (37m).

Para a segunda parte, e com Rui Pires amarelado, Peixoto lançou Luiz Carlos e o Paços viu iniciado o desenho da vitória numa falta assinalada por António Nobre, com recurso ao VAR, de Bruno Jordão sobre Holsgrove. Antunes não vacilou, bateu forte. E fez bater o coração da maioria dos 3.635 espetadores na Capital do Móvel.

A partir do 1-0, viu-se, a espaços, o que pouco se ainda tinha visto do Santa Clara. Uma equipa a querer correr mais para a frente e a enviar a bola ao ferro logo na resposta, por Paulo Henrique. Rildo falhou depois na bola e a hipótese do empate esfumou-se.

Depois começou o jogo dos bancos, os ânimos aqueceram e houve uma farta dose de cartões, muitos deles por quezílias. O Paços teve aproximações para o 2-0, mas não marcou e a tal aflição surgiu no fim. De um lado, para defender o 1-0. Do outro, para tentar o empate, que quase surgiu por Walter González. Foi por centímetros e Paços suspirou de alívio.

O final foi diferente. Melhor para o Paços. Pior para o Santa Clara. O moral está diferente, mas no que conta, os pontos, tudo em igualdade para as últimas dez finais.