Sensação de déjà vu no futebol brasileiro: quatro anos depois, o escrete voltou a tombar nos quartos de final da Copa América diante do Paraguai nas grandes penalidades, e vai falhar, pela primeira vez, a Taça das Confederações.

Conhecido como o país do futebol, o Brasil vive, atualmente, um momento conturbado dentro (e fora) das quatro linhas, com os sinos a ecoarem com maior intensidade após a goleada encaixada diante da Alemanha (1-7) nas meias-finais do Campeonato do Mundo de 2014.

Mano Menezes conta como chegou ao comando da seleção brasileira

Mano Menezes, selecionador brasileiro entre agosto de 2010 e novembro de 2012, está em Portugal a participar numa formação para treinadores de elite e foi cabeça de cartaz do workshop seleção do Brasil: do recrutamento ao processo de treino e competição, organizado pela Universidade Lusófona, onde fez o raio-x ao futebol canarinho.

Mano Menezes e Rui Vitória: «Ou aceitava ou arrependia-se para sempre»

Olhar para o passado recente significa dar de caras com estrelas como Romário, Ronaldo, Ronaldinho ou Kaká, e conviver, obrigatoriamente, com os êxitos nos Mundiais de 1994 e 2002. Daí para cá continuaram a aparecer craques, Neymar é o expoente máximo dessa qualidade inata, mas o sucesso está longe de ser condizente com os pergaminhos dos pentacampeões mundiais. Mano Manezes explica porquê:

«Falta uma filosofia ao futebol brasileiro que identifique a maneira de conduzir cada clube. Estamos sempre presos aos objetivos de cada treinador e isso é muito pouco. O treinador precisa de se preocupar com os resultados porque, caso contrário, não continua no cargo. No entanto, se um clube se concentrar apenas nos resultados acaba por ser curto e isso acontece com a seleção brasileira. Produzimos muitos jogadores com talento, mas falta-nos essa parte importante do planeamento que precisamos de melhorar urgentemente. O reflexo disto que estou a dizer vê-se no mundo: os jogadores brasileiros jogam em toda a parte e os treinadores só trabalham no Brasil», reforçou em conversa exclusiva com o  Maisfutebol.

Mano Menezes comandou a seleção brasileira entre agosto de 2010 e novembro de 2012

A explanação do antigo treinador de Corinthians, Flamengo e Grémio deixou água na boca à assistência que pediu receitas para reerguer a canarinha. Mano Menezes sublinhou que não é possível fazer magia, mas apontou o caminho a seguir.

«Primeiro temos de aceitar que não somos mais o número um. Para vocês parece óbvio, mas para nós não. Quando não aceitamos as evidências é mais difícil. O Brasil tem de definir o que quer ser. Existem muitas formas de ganhar e perder. Há, inclusivamente, quem ganhe estacionando o autocarro à frente da baliza, mas sabe o que está a fazer. Ser indefinido é que não. Essa é a pior forma»
, sublinhou durante a sua explanação.

Para Mano Menezes a crise no futebol brasileiro tem origem nas graves lacunas que se verificam na formação, situação que se reflete, invariavelmente, na qualidade dos jogadores.

«Começamos a vender jogadores para a Europa porque os nossos clubes precisam de vender. Traçámos uma linha e tudo o que ficasse abaixo era rejeitado. A conclusão disto é que o jogador brasileiro perdeu qualidade. Domina mal, passa mal porque inventou uma nova forma de jogar. Temos de ensinar tudo de novo», vincou durante a palestra na Universidade Lusófona.