Há sensivelmente um ano, Manuel Machado foi chamado para uma comissão de serviço com caráter de urgência. O Nacional da Madeira arrastava-se nas últimas posições da tabela, com apenas cinco pontos conquistados, e Rui Alves não hesitou na hora o seu treinador talismã. Com o professor sentado no banco de suplentes os alvinegros depositaram mais 35 pontos na conta poupança e terminaram a Liga próximos dos lugares de acesso às competições europeias. Até ao momento, os madeirenses são uma das agradáveis surpresas da Liga e vão a Luz com apenas um ponto de desvantagem para os encarnados. Manuel Machado faz uma vénia aos jogadores, mas alerta para as contingências de ter uma equipa jovem.

O regresso ao Nacional, na última época, deu-se com a competição já em andamento e com a equipa em sérias dificuldades na tabela. É difícil pegar numa equipa idealizada por outro?
«Já tinha passado por situações semelhante em Braga, com um grupo que dificultou muito que as coisas melhorassem, e no Aris de Salónica, onde houve melhoria de rendimento ao nível dos 100%. Cheguei com a equipa em último lugar e conseguimos terminar próximos dos lugares europeus. Acaba por ser diferente porque uma coisa é trabalhar com a direção e encontrar jogadores que encaixem na nossa ideia, outra é ter um plantel feito por outra cabeça».

Concorda, então, que não é uma situação ideal nem para o treinador nem para o clube?
«Uma boa época resulta, essencialmente, numa boa ideia para o jogo e num bom planeamento, muito mais do que depois estar a remendar aquilo que foi feito por outros».

É, hoje, mais difícil encontrar jogadores de qualidade que sejam mais-valias para equipas da classe média do futebol português?
«É mais difícil mas não é só para o Nacional. Também o é para o Sporting de Braga, para o Benfica, Marítimo ou qualquer outro. Os orçamentos dos clubes foram reduzidos em 50%.e os mercados com que nos socorríamos com frequência são uma miragem neste momento. Ou se vai buscar à base, aos estaduais, ou é muito complicado».

É também por isso que o Nacional se virou para outras abordagens, nomeadamente para o jogador africano?
«Temos, de fato, jogadores de origem africana, como Zainadine, Mexer, Djaniny, Lucas João, Mateus, entre outros, que provêm de mercados alternativos. É uma escola nova, o jogador africano é muito talentoso, mas tem tanto de talento como de falta de princípios de jogo. Isso exige mais paciência».

Com este perfil de jogadores o técnico assume, na plenitude, o papel de professor, na medida em que os ensina e prepara para o futuro. Dá-lhe gozo este tipo de trabalho?
«Claro que sim. Este é um plantel do qual eu gosto muito, porque tem muitos jogadores jovens que se a porta não estiver fechada no dia de folga eles vêm treinar nas nossas costas. Há uma grande ambição de crescer, de aprender, e quando se trabalha com este tipo de matéria-prima só se pode estar agradado».

Apesar de o Nacional ter conseguido manter a espinha dorsal da equipa, os resultados iniciais causaram alguma desconfiança. Como é que explica esse arranque menos positivo?
«Este grupo é bom, tem vários elementos jovens e, quando assim é, há erros que se cometem. No jogo com o Estoril, uma equipa mais experiente tinha ganho. Marcámos, tivemos vários momentos para vincar o resultado e, depois, não é qualquer equipa que leva três golos em três minutos. Um conjunto mais experimentado nunca levava o segundo porque quebrava o jogo e ia para intervalo empatado».

Daí para cá a equipa tem vindo a melhorar o seu desempenho e ocupa, neste momento, o quarto lugar da tabela classificativa. Olhando para a curva evolutiva a conclusão parece óbvia: a equipa está a crescer…
«É evidente que, com o passar dos jogos, temos estado mais perto daquilo que são as nossas capacidades. Neste momento estamos numa fase interessante, mas vamos ver o que ela dura porque vêm aí confrontos com adversários exigentes, como, de resto, foram o Rio Ave e o Sporting de Braga. Conseguimos resultados expressivos, com bons índices defensivos e ofensivos, contra equipas que são, de fato, muito complicadas. Veremos como é que a equipa vai reagir a esta quebra de competição».