O selecionador de râguebi de Portugal, Patrice Lagisquet, que está de saída após o Mundial 2023, avaliou a prestação portuguesa na competição como um «sucesso», na sequência da primeira vitória lusa de sempre na competição.

«É um sucesso, porque sonhávamos com uma vitória e conseguimos no último jogo», disse o treinador, à Lusa, ainda em Toulouse, menos de 24 horas após o triunfo por 24-23 ante as Fiji, no último encontro do Grupo C.

Para o treinador, «mais do que a prestação» ante uma das oito seleções apuradas para os quartos de final, o que mais impressionou foi a forma como os desempenhos da equipa «melhoraram ao longo da competição». «Depois disso, a vitória é o resultado da melhoria do grupo, da equipa. Isso foi o que mais me impressionou durante estas quatro ou cinco semanas», comentou o técnico, que já conquistou três títulos do Top 14 de França e uma Taça Challenge (a segunda competição europeia de clubes) pelo Biarritz.

«Gostei de construir este grupo, o râguebi que conseguiram jogar, porque foi uma boa experiência para mim adaptar-me ao ADN do râguebi português. O que eu gosto é de descobrir todas as capacidades dos jogadores e ajudá-los a jogar um râguebi que use todas as suas qualidades», comentou o antigo adjunto de Philippe Saint-André na seleção francesa (2012-2015), concordando que teve nas mãos uma «geração dourada» de jovens do râguebi português. Também «sem esquecer os jogadores mais experientes, que deram tanto», o gaulês de 61 anos que «os jovens jogadores que vão ser o futuro desta equipa vão ser cada vez melhores».

Lagisquet apelou, por isso, à World Rugby, que premeie o desempenho dos lobos no Mundial 2023 com a qualificação direta para o Austrália2027, através do quarto lugar no Grupo C: atualmente, só são apuradas automaticamente as três primeiras seleções de cada grupo. «Seria o melhor para o râguebi português se a World Rugby decidisse ter 24 equipas no próximo Mundial e qualificar as equipas que estão em quarto lugar na poule. Seria uma ajuda fantástica para o râguebi português poder desenvolver as suas capacidades e ter os jogadores envolvidos num projeto de quatro anos», concluiu.

«Gostava de voltar a jogar contra Gales, seria interessante»

O técnico falou ainda do percurso desportivo neste Mundial, que antes da vitória histórica ante as Fiji, começou com derrota na estreia ante o País de Gales, por 28-8, seguida de empate com a Geórgia (18-18) e derrota com a Austrália por 34-14. Lagisquet disse que gostava de voltar a jogar contra Gales e destacou que os jogadores, agora, não teriam receio de enfrentar adversários desse nível.

«Gostava de voltar a jogar contra o País de Gales, seria interessante. Mas eles estão cada vez mais confiantes e a jogar bom râguebi», disse o técnico, lembrando, por outro lado, que «os fijianos nem sempre são regulares». Considerou, ainda, que se Portugal tivesse jogado com equipas como «França, África do Sul, Nova Zelândia e Irlanda teria sido muito difícil», mas aceitou o desafio de nomear outras seleções às quais os lobos poderiam tentar ganhar se continuassem em prova.

«Talvez pudéssemos tentar competir com Inglaterra, porque não estão muito confiantes. Poderíamos jogar contra o Japão, Itália. Talvez a Argentina, apesar da sua intensidade. Mas agora sabemos o que é jogar a este nível, com esta intensidade e luta. Não teríamos receio disso, os jogadores não teriam receio», assumiu Lagisquet, confessando que foi mesmo «durante o primeiro jogo», contra Gales, que começou a acreditar que seria possível uma vitória neste Mundial.

«Quando conseguimos quebrar a linha deles, jogar com a mesma intensidade durante 42 minutos de jogo efetivo. Porque antes da competição nunca sabemos. Tentamos construir as coisas, dar ferramentas, mas nunca sabemos o que acontece. Após esse jogo, fiquei a pensar que sim, que agora conseguimos competir», recordou. «No segundo jogo, já conheciam a atmosfera, o problema de ser demasiado emocional. Perceberam que falharam na primeira parte, só porque depois do hino não conseguiram acalmar-se e focar-se só no jogo», assinalou, dizendo que, contra a Austrália, «todas as estatísticas foram favoráveis» à seleção portuguesa, exceto «o número de erros».

«Contra as Fiji, cometemos menos erros. A prestação dos avançados foi muito boa nos alinhamentos, nos scrums, nas fases estáticas. A defesa foi melhor do que nunca contra uma das equipas mais fortes e poderosas do mundo. E, depois, temos estes jovens jogadores, talentosos, que conseguem fazer coisas incríveis, como o Jay [Jerónimo] Portela, Rodrigo Marta, Raffaele Storti», elogiou.