O contraste entre este FC Porto e os das épocas anteriores justifica as críticas dos últimos tempos. 

Percebe-se como as coisas estão diferentes ao ler os elogios à segunda parte da equipa de Paulo Fonseca: jogar bem, de forma competente e equilibrada, fazer dois golos ao Sporting de Braga (a este Sporting de Braga, com tantos jogadores novos, em evidente fase de construção…) e não permitir nenhum passou a ser uma grande coisa.

É evidente que vencer o Sporting de Braga será sempre bom, mas convém não esquecer que o FC Porto foi apenas a sétima equipa a consegui-lo, em doze jogos. Portanto, creio que as coisas devem ser colocadas no seu lugar. O campeão assinou uma boa exibição, sim. Mas só por uma questão de fé os adeptos poderão esperar que tudo tenha ficado resolvido.

A exibição da noite foi de
Jackson Martinez.

Confesso que sempre achei excessivas as críticas ao colombiano. E nunca entendi que Paulo Fonseca também fosse na conversa. Em algumas conferências de imprensa o treinador referiu mesmo o nome de Jackson como alguém que não estava no seu melhor. Em outras foi mais genérico. Falou em problemas de finalização. Mas foi como se por cima se acendesse um letreiro onde se lia «Estás a ouvir, Jackson?».

Na verdade, não vejo grandes diferenças entre o que o colombiano está a fazer esta época e aquilo que realizou em 2012/13.

Antes de continuar, os números, que ajudam sempre a pôr as coisas no seu lugar. Olhando só para o campeonato, à 12ª jornada do temporada passada tinha doze golos. Agora leva dez.

Estes dez que marcou em 2013/14 são quase metade do total da equipa (o FC Porto só fez 22 na Liga). Acresce que os conseguiu sem ter jogadores como Hulk (jogou nas duas primeiras jornadas), James e Moutinho a servi-lo. Essa equipa tinha um modelo de jogo definido, trabalhado e muita qualidade na aproximação à área do adversário. Os lances eram bem trabalhados e as bolas chegavam a Jackson normalmente no momento certo e da forma correta.

Face ao que o FC Porto tem jogado até aqui, e à instabilidade nas alas e no meio-campo, creio que estes dez golos de Jackson dizem mais sobre a qualidade do colombiano do que os outros doze. Sinceramente, da próxima vez que alguém pensar em criticar o FC Porto, convém começar a olhar mais para trás.

NOTA 1: A forma como o Arouca se apresentou na Luz merece elogios. Claro que as equipas que defrontam os grandes têm de se colocar de forma a não permitir que o Benfica disponha de espaço livre entre a linha de defesa e a grande área. Sofrerão muito, claro, e precisarão de ter alguma sorte. Tudo certo. O que o Arouca acrescentou a isso foi uma ideia sobre como procurar Artur, como sair, como incomodar. Que uma equipa na última posição do campeonato o tenha conseguido diz alguma coisa sobre o Benfica, sim, mas também sobre si própria.

NOTA 2: Sem surpresa, o Estoril foi ganhar a Paços de Ferreira. Este Paços de Calisto é só um grupo de jogadores esforçados com uma ou duas ideias básicas do que é uma equipa. Precisa de crescer muito e depressa. Do outro lado, uma das equipas mais trabalhadas da Liga, ainda para mais com boas e variadas soluções na frente, o que é pouco comum a este nível. Com cinco vitórias fora e apenas uma na Amoreira, Marco Silva só precisa de descobrir uma outra forma de se colocar em casa (talvez uns metros mais atrás, deixando o adversário sair um pouco) para traduzir na classificação aquele que é, neste momento, o seu estatuto: de longe a quarta melhor equipa portuguesa.