Nuno Gomes ainda não diz com as letras todas que deixou de jogar futebol. Vai reconhecendo que está sem jogar há seis meses, mas é uma evidência que aos 37 anos a sua carreira como jogador terá terminado. Reconhece que ainda não sabe o que vai fazer, mas seguramente algo ligado ao futebol. Pelo meio, aproveita para dizer que nenhum futebolista está preparado para o fim e por isso entende que surjam casos de depressão ou outros problemas.

«Faz parte da vida do jogador aprender a lidar com o fim da carreira. Acho que ninguém está preparado, por muito que se vá mentalizando nos últimos anos de carreira que essa hora está a chegar, acho que ninguém está preparado porque é uma mudança muito brusca. Ou o jogador consegue de um dia para o outro arranjar alguma coisa para fazer e não estar muito tempo inativo, ou então a situação pode deixar danos», explicou em exclusivo ao Maisfutebol no final de uma conferência sobre morte súbita no desporto, que decorreu em Lisboa.

São muitos anos de ligação ao futebol, uma carreira com despedimento forçado e sem perspetivas reais à vista. Nuno Gomes começou o seu percurso profissional no Boavista, no longínquo ano de 1994/95. Passou pelo Benfica, pela Fiorentina, Sp. Braga e Blackburn Rovers. Foi figura na Seleção, conquistou títulos e esteve desde muito cedo sob os holofotes da fama.

Após a sua primeira experiência como orador, durante a conferência internacional «Leaping Forward», ainda ajeita o blazer enquanto vai respondendo sobre o que sabe.

«Não é fácil ao fim de vinte e tal anos de carreira de um momento para o outro não continuar a fazer o que estava a fazer. Não deixa de ser uma mudança muito brusca e não deixa de poder haver o risco de depressões», admite, acrescentando:

«Neste momento estou sem jogar, vamos ver o que irei fazer daqui para a frente, mas o facto de estar parado há alguns meses deu-me a conhecer essa realidade. Felizmente tenho feito muita coisa para ocupar o meu tempo, mas acredito que haja casos de jogadores que terminam a carreira e depois não têm nada para fazer, é mesmo assim, o que pode causar muita depressão e muita dor de casa. Devia haver, se calhar, uma pré-preparação para esse dia que nenhum jogador gosta que chegue».

Depois de terminar o contrato de uma época com o Blackburn Rovers, Nuno Gomes ficou sem clube e agora espera poder encontrar uma solução, embora não queira abrir o jogo: «Aquilo que eu fazer dentro em breve será público, estarei ligado ao futebol com certeza».



Mais nervoso do que num estádio

Nuno Gomes foi u m dos oradores convidados para o simpósio sobre morte súbita no desporto, que integrou o congresso médico «Leaping Forward», que teve lugar no Hospital da Luz, em Lisboa, e que foi organizado pela Espírito Santo Saúde.

Ao lado de Fernando Santos e vários médicos de renome mundial partilhou experiências pessoais e falou do caso de Miklos Fehér, com quem jogou no Benfica. Disse ter ficado mais nervos perante este tipo de plateia do que quando entrava num Estádio com milhares de pessoas.

«Fui convidado pela empresa organizadora deste congresso e decidi aceitar, também por aquilo que me foi pedido, que era a visão do jogador neste tema da morte súbita e também porque foi num ambiente um pouco descontraído que o fiz, porque não é de todo a minha área e não são técnicas que eu domino. Como disse lá dentro sinto-me mais confortável num estádio cheio de pessoas do que propriamente ter de falar para uma plateia com médicos tão conceituados», explicou.

Segundos depois de ter dito que ainda não sabia o que fazer no futuro, admitiu estar disponível para agarra oportunidades. «Foi a primeira vez e era uma questão de oportunidade e quando nos é pedido para transmitir aquilo que nós sentimos como jogadores para nós torna-se fácil explicar, porque é a nossa vida».

A vida de futebolista já é passado, resta saber quais serão os próximos passos de Nuno Gomes.