A esta hora estará o Fergie numa barulheira infernal, todo comichoso, a lutar com o sofá de pele do seu gabinete. Com um copo de vinho tinto na mão, a soltar insultos indecifráveis em todas as línguas menos na dele, com perdigotos e murros na mesa à mistura. A verdadeira Alex Ferguson way. Se tivesse uma garrafa de água ali por perto voltaria a acertar no Beckham, estivesse ele onde estivesse. Garanto! Ele sempre gostou de mim, e ninguém nunca percebeu porquê. Às vezes, nem eu. Não marco golos, não finto, não cruzo tanto quanto devia, apenas ando ali a tentar não desiludir quem apostou tanto em mim. E que não se arrepende. Já tive bons jogos, sim, mas não foram assim tantos. Deram-me o 7 de Best, Robson, Cantona e Ronaldo, mas tive de o devolver. Prefiro o mais humilde 25. E na seleção pode ser mesmo o 16, não faz mal. Tento apenas fazer o que me pedem, sem protestos. Penso na equipa primeiro, porque não há muito mais para pensar. A que pode aspirar mais um simples rapaz da Amazónia Terá sido Fergie, outra vez, a mexer os cordelinhos para a minha renovação. Só pode ter sido, vai uma aposta ?  ¡Ay!  Neste Mundial desiludi toda a gente. Não fui o jogador do Manchester United, fui apenas o Antonio. E nem O Valencia fui, porque o Enner levou o meu apelido bem mais alto do que eu. E até dizem que o meu clube o quer. Outro Valencia, um Valencia melhor. Tudo correu mal! Ao miúdo Sterling fui visto a apertar o pescoço, depois de uma entrada irresponsável. Agora, deixei os dentes da bota à frente, perante o tackle do Digne. Podia tê-lo ferido com gravidade. Deixei a perna à frente e mordi-lhe com força. Era inevitável, quando vi todos à minha volta. O árbitro sacou o vermelho. E tinha razão! Que podia eu dizer ? O Mundial acabava para mim, acabaria depois para o Equador. E eu, aquele que joga no ManUnited, fui a maior desilusão.

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.  É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na   MFTotal. Pode segui-lo no  Twitter ou no Facebook.



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