Ma che caspita fai? Transformaram uma das grandes defesas da minha vida no canto del cigno. Não o merecia, ao fim de tantos anos. Aguentei a mordidela do vampiro melhor que o Chiellini, e resisti a ter menos uma pedra no muro à minha frente porque um dos nossos médios entrou estupidamente, sem qualquer necessidade, às pernas de um jogador da Celeste. Caspita, tínhamos a fotografia do Godín nos nossos relatórios, só faltou pendurá-la no balneário ao lado da do Suárez e fazer tiro ao alvo com uns dardos. Era só tê-los sob controlo. E estavam controlados. Estiveram controlados. Amarrados no nosso catenaccio, que apesar de não aparecer tantas vezes como dantes é um recurso valioso quando é preciso. Já nos tínhamos livrado do pazzesco do Balotelli ao intervalo, por isso estava tudo a correr bem. Estava mesmo tudo a correr bem. Raios! Acho que não vou dirigir palavra ao Marchisio durante umas semanas! Aquela defesa… Sabem que sempre que voo para uma bola recordo uma tarde de 1997 em Parma?  Já foi há 17 anos. E, no fim, disseram que tinha sido avistado, no Ennio Tardini, o Super-Homem, o tal que existia de cada vez que o Clark Kent desabotoava a camisa e desafiava os arranha-céus de Nova Iorque. «Super-homem avistado em Parma», lembro-me bem dos jornais do dia seguinte. Aquele Inter de Djorkaeff, Paulo Sousa, Simeone, Recoba e Ronaldo tinha esbarrado, disseram, num guarda-redes com super-poderes, que até tinham evitado um penálti do Fenómeno. E ganhámos: o Crespo marcou! Comecei aí a escrever a minha lenda. A lenda de um dos melhores de todos os tempos. Só me faltou ser eleito melhor do mundo nove anos depois, mas preferiram o Cannavaro... Chi ha orecchie per intendere, intenda!! Aquela defesa tinha valido um golo. Era a oportunidade deles, a mais flagrante. Só faltava fazer o que sabemos fazer melhor. Defender. Aguentar, aguentar. Fecharmo-nos em concha e aguentar o passar dos minutos. Mas foi então que chegou aquele canto. Um canto, em que também somos fortes. E a bola foi ter direitinha com o Godín, que a cabeceou para o meu lado esquerdo. Estávamos arrumados. Diziam-nos arrivederci, choravam nas bancadas. Aquele monumento, aquele desvio com a minha mão direita, com o Suárez a morder a própria língua para não festejar golo antes de tempo, de nada serviu. Apenas... Apenas simboliza o meu canto do cisne! 

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.    É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na       MFTotal. Pode segui-lo no    Twitter ou no    Facebook.