Os Kovac querem-nos ali. Atrás. É para pensar o jogo a partir de trás. Como se para se encontrar a solução de um problema fosse necessário escrever certinho o enunciado. Lembram-se da escola ? É assim que eles querem que joguemos. Eu e o Rakitic. O Rakitic e eu. Levamos a bola. Trocamo-la. Depois resolver fica quase sempre para os outros. Às vezes, há um outro ic por ali, o Kovacic, e o miúdo tem talento, mas já nós os dois estamos tão longe da baliza. É frustrante! Um crime de lesa-pátria; mas olhem, nós estamos bem... A sério! Não digam nada aos misters. Nós fazemos o que nos pedem, mas é frustrante. O que fariam vocês ? Quando o meu falso gémeo chegou à área finalmente estávamos derrotados. Assistiu de calcanhar e foi golo. Mostrou que é para isso que servimos, mas terá chegado para convencer o resto do planeta ? É para isso que fomos feitos. É, como diz o outro, o nosso ADN. Há dúvidas de que o nosso último passe seja bem melhor que o primeiro e o segundo ? E também por isso hoje vamos para casa! Dizemos adeus a este Mundial-em-banho-turco, quente e húmido, que não quis nada connosco. Hoje, a glória foi dos mexicanos. E, para nós, gringos, acabou! Antes do Márquez, do Guardado e do Chicharito terem carimbado o nosso bilhete de volta, andávamos atrás de Herrera, que fez questão de ser um bom cicerone e mostrar-nos as vistas. Corremos atrás dele, ficámos a vê-lo encher a cancha. É como eles a chamam. Parece que não gostam de Herrera lá no clube dele... Não sei porquê. O futebol às vezes é muito estranho, não é uma linha reta. Jogou como se o mundo fosse acabar... Melhor, como se o Mundial acabasse hoje. Correu quilómetros, passou, fintou, rematou. Acertou em cheio na nossa trave, com o Pletikosa batido. E, depois, marcou o canto que fez tudo desabar. Não consigo deixar de pensar que nós é que devíamos estar nesse papel. Ele é que devia ter ficado a ver-nos jogar!

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.   É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na      MFTotal. Pode segui-lo no   Twitter ou no   Facebook.