Mes amies! Pensava eu que já tinha visto tudo! Depois daquela recarga do Cabaye à trave, sem ninguém na baliza, não podia esperar outra coisa. Quem esperaria? Mas allons-y! A minha mãe já me dizia: ne mets pas tous tes oeufs dans le même panier. Que é como quem diz: não ponhas todas as fichas no mesmo jogo, mas com ovos e frigideiras à mistura. Vocês percebem. Coisas de mãe, que acabam por fazer sentido um dia. A vida continua, e les Bleus ganhavam, por isso já era passado. Tenho pena do Cabaye, mas o espetáculo continua sempre. As coisas correm-me bem. Três buts, duas assistências, um autogolo forçado, uma bola ao poste. Sim, falhei um penálti, pronto! O raio do Benaglio adivinhou o lado, foi esperto. E depois o Cabaye... Mas chega dessa jogada, já passou. Alors, anularam-me dois golos! Dois! Limpinhos! Está tudo bem, mas já foram dois. A este ritmo onde vamos parar ?  Vão continuar a fazê-lo? Tudo isto em dois jogos. Dois! Mas este, frente aos suíços.... o árbitro foi... Olhem, comme un chien dans un jeu de quilles. Não teve subtileza nenhuma. Grosseiro, foi grosseiro. Em que é que ele estava a pensar Sim, já tinham passado os descontos. Sim, já nada acrescentava ao resultado. Sim, ele não podia adivinhar que eu ia fazer aquilo. Oui, c´est vrai! Mas, mesmo assim não se faz. O Sissokho trouxe a bola da direita e viram o que eu fiz? De primeira, sem pensar. Dali, de fora da área! Que golão! Talvez não tão bom como o do Cahill ou o do Van Persie, mas entrava no top. Aucune doute! Não se faz. Não acham? Ce n´est pas de la tarte! Não é fácil viver coisas destas! Deixava acabar a jogada. Depois de o Domenech ter-me deixado de fora na África do Sul, acredite-se naquela história de não estar em forma e não na da outra, a da prostituta a quem nunca vi o BI (juro!), estou aqui para fazer história. E, no fim, os meus companheiros podem voltar a chamar-me o que me chamaram há mais quatro anos. Arrogante, como escreveu o Parisien. Arrogant ? Bien-sûr que si!


«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.   É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na   MFTotal. Pode segui-lo no   Twitter ou no   Facebook.