PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«THE ART OF FOOTBALL FROM A TO Z» - de Hermann Vaske    

Bom humor e génio. Lembrei-me de Paulo Fonseca ao rever o documentário aqui sugerido, com o impagável John Cleese no papel de narrador/animador/comentador.

Um dos seis Monty Python - e protagonista da genial Fawlty Towers -, Cleese é um adepto apaixonado do desporto que amamos. E crítico, muito crítico de outro, a quem chamamos futebol americano. Neste caso concreto, coloco-me ao lado de Cleese. Radicalmente.  

Cleese é preconceituoso, um defensor acérrimo da bola redonda, jogada com os pés. Despreza, por isso, despreza o melão utilizado no futebol americano e ataca a expressão soccer, que considera incorreta e incompreensível.

Neste filme de 2007, Cleese leva o olhar inteligente e satírico dos Monty Python para um mundo que se leva demasiadas vezes a sério. E é tão bom falar de futebol com um sorriso nos lábios.

É essa característica, antes de mais, que me leva a Paulo Fonseca.

Por tê-lo entrevistado já duas vezes e por tê-lo visto num episódio recente do muito aconselhável ReporTV, sei que Fonseca torna compatíveis o profissionalismo e o bom humor, o estudo e o diletantismo, a exigência e a liberdade.

Adorei, sempre, a capacidade dos Monty Python em brincar com coisas sérias, em aliviar a carga aparentemente dramática e partir desse ponto para um sketch de gargalhadas memoráveis.

Talvez a crucificação de Cristo a desaguar no refrão de Always Look on The Bright Side of Life seja o exemplo maior do supracitado. E é importante não esquecer que Paulo Fonseca foi crucificado, muitas vezes, e nunca perdeu a capacidade de ser perseverante.

Aceitou voltar a Paços de Ferreira, aceitou falar ao Maisfutebol (e agora à SporTV) dos muitos problemas vividos no FC Porto, aceitou abraçar o projeto-Sp. Braga e aproximar ainda mais os Guerreiros do Minho dos três grandes.

O resultado está à vista. O Sp. Braga é a equipa com mais pontos conquistados na segunda volta da Liga, está nas meias finais da Taça da Liga e da Taça de Portugal, continua em prova na Liga Europa.

Fonseca fugiu à sentença destinada aos treinadores que falham num dos três grandes. Normalmente, nunca mais lá voltam. Fonseca? «Regressar é só uma questão de tempo»

 

PS: «The Revenant: O Renascido» - de Alejandro G. Iñarritu 
Denso, escuro, cruel e, paradoxalmente, belo e poético. Recriação perfeita do mestre Iñarritu, agarrado aos dados possíveis de verificar da vida de Hugh Glass, pioneiro e caçador de peles nos EUA do século XIX. A filmagem é pesada, o tom sempre duro, a resistência de Glass - Leonardo Di Caprio está soberbo e a caminho do merecido Óscar - sobre-humana.

Há cenas memoráveis: o combate com a ursa, o primeiro ataque dos índios, a fuga a cavalo... O filme podia e devia ser um pouco mais curto, pois a narrativa não justifica duas horas e meia de película. Exceção feita a esse reparo, The Revenant é um filme para entrar na história recente do Cinema. Não aconselhável aos espetadores mais sensíveis.          



SOUNDCHECK:

«THE INVISIBLE BOY» - dos The Happy Mess

Uma bela surpresa desta banda portuguesa. O vídeo é filmado no campo de râguebi do Instituto Superior de Agronomia e acompanha em três momentos diferentes - infância, adolescência e vida adulta - duas das paixões do protagonista: uma menina (depois mulher) e o desporto.

O ritmo da música, vivo e harmonioso, ajuda a fazer deste The Invisible Boy uma das melhores composições que ouvi de projetos portugueses nos últimos tempos. Desporto e Amor.



PS: «Hymns» - dos Bloc Party
Tenho saudades de chegar a casa e por o primeiro álbum destes rapazes, Silent Alarm, aos berros. Indie, Dance, Rock, guitarras e sintetizadores, a voz de Kele Okereke e refrões altivos.   

Infelizmente, os Bloc Party não voltaram a fazer um disco desse nível. Com Hymns, o quinto cd dos rapazes de Londres - com metade do quarteto renovado - prosseguem o caminho da busca pela redenção. E aproximam-se, finalmente, de níveis dignos de criatividade. 

É um álbum diferente dos anteriores, mais triste. A voz de Kele clama por ajuda, a instrumentalização é menos agressiva e mais reflexiva. A crítica tem-se dividido nas análises e eu compreendo essa dispersão de opiniões. Não é um conjunto de músicas unânime, mas há faixas inatacáveis.



VIRAR A PÁGINA:

«O Menino da Mamã» - de Álvaro Magalhães

Diário ficcionado e ilustrado da mãe do melhor futebolista do mundo. Aproximação à realidade em tons fantásticos e desenhos irrepreensíveis, sempre com a sombra de Cristiano Ronaldo a pairar. Rivais, namoradas, mistérios e muito bom humor, tudo através da escrita envolvente do brilhante Álvaro Magalhães, um dos autores mais recomendáveis da língua portuguesa.

«Porque é que as mulheres não gostam de futebol?». «Mãe só há duas». «Os Três Mandamentos». «A Última Lição». Apenas alguns dos capítulos da história do inenarrável Abelhinha. Querem conhecê-lo melhor? Então, façam o favor de ler «O Menino da Mamã». Vão acabar o livro com um sorriso nos lábios.
 


«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.