PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«TOUCHING THE VOID» - de Kevin McDonald   

Em 1985, Joe Simpson e Simon Yates, dois jovens britânicos, arriscaram a aventura de uma vida: a ascensão do Siula Grande, um pico da Cordilheira dos Andes, no Peru.

Na descida, Simpson feriu-se gravemente e Yates teve de tomar a mais terrível das decisões: ficar com amigo e morrer com ele ou abandoná-lo para tentar, pelo menos Simon, fugir à morte?

Simon Yates decidiu o que qualquer um de nós decidiria. Agarrou-se à vida, no limiar da sobrevivência, e pensou ter perdido para sempre Joe Simpson.

Ouvi o Nuno Madureira, diretor do Maisfutebol, falar desta história - verídica - há umas semanas, no nosso programa na TVI24. Fui atrás do documentário que a recupera, lançado em 2003. É fascinante e um verdadeiro tributo ao limite da resistência humana.

Não vou revelar muito mais. Acrescento só que Simpson e Yates participam no filme e que estão bem de saúde. A película junta os depoimentos deles à recriação dos eventos com atores, alpinistas profissionais. O realismo é impressionante.         

Kevin McDonald, o realizador, é o responsável por outros filmes de qualidade: O Último Rei da Escócia (com o intenso Forest Whitaker), Mar Negro (com Jude Law) e A Águia da Nona Legião. 
 


PS: «O Principezinho» - de Mark Osborne  
Entrar em 2016 e abraçar quem amamos. É o que apetece fazer depois de ver esta delícia de filme. Para crianças? Nem pensar. A animação de Osborne, baseada no eterno conto de Antoine Saint-Exupéry, é uma lição para graúdos, mais ou menos jovens.

Reconfortante, emocionante, a lembrança de que, agora e sempre, o essencial é invisível aos olhos. Mark Osborne cria uma história paralela e associa-lhe pedaços do livro de Exupéry. A animação é estupenda, as vozes humanizam o filme, a personagem do vizinho aparentemente distraído – concentrado no que realmente interessa – não nos larga.

Se o mundo dependesse deste filme, todos seríamos melhores.   

    

SOUNDCHECK:

«ESPETÁCULO» - de Sérgio Godinho e Clã

2001, «Afinidades», magia em cada palavra. As vozes de Manuela Azevedo e Sérgio Godinho unem-se em palco, canta-se uma tarde no futebol, com o encanto de quem sabe e de quem sente.

Recordo as noites de fecho no extinto O Comércio do Porto. A escrever ao som desta música e a pensar no sentido de tudo o que ouvia. Uma música com espaço para o nosso desporto, mas que é muito mais do que isso.

«Quando tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera dum penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na grama
vem falar comigo como gente que se ama
e até não se poder mais
vamos jogar».




PS: «Return to the Moon» - dos El Vy
A voz rouca, boémia, a prometer tosse e expetoração, do frontman dos The National é transportada para um universo distinto. De mão dada com Brent Knopf, cérebro dos Ramona Falls, Matt Berninger abandona a zona de conforto e arrisca um tom mais pesado, carregado de guitarras e indulgência.

Return to the Moon, nome do álbum e do primeiro single, é uma descoberta curiosa, melhor a cada audição. Funky, atmosférico, recheado de sintetizadores, o disco pouco tem a ver com o trabalho comum dos The National.

A minha favorita é esta I’m the Man to Be
  
 

VIRAR A PÁGINA:

«THE BOLT SUPREMACY» - de Richard Moore

Moore acompanhou anos a fio o mundo do ciclismo e, em particular, Lance Armstrong. O escândalo de doping que destruiu a carreira onírica do norte-americano deixou o jornalista/escritor destroçado. Moore fugiu do ar tóxico do Tour e procurou refúgio no atletismo.

Encantado com os velocistas jamaicanos nos Jogos de Londres, principalmente com o grande Usain Bolt, Richard Moore partiu para as Caraíbas decidido a perceber a origem de todo o sucesso.

O livro apresenta entrevistas com treinadores, dirigentes e atletas jamaicanos, mas foge da resposta principal: há algum doping envolvido nos programas dos velocistas jamaicanos? No final da obra, a dúvida mantém-se.

Nota derradeira: Richard Moore não conseguiu entrevistar Usain Bolt. Ao contrário do Maisfutebol. Pode recordar AQUI a nossa conversa exclusiva com o homem mais rápido do planeta.    

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.