Phil Woosman era um apaixonado pelo futebol. Jogou no West Ham e no Aston Villa, foi internacional galês, participou até no Mundial de 1958.

Um dia arriscou.

Cruzou o Atlântico e chegou aos Estados Unidos com a ambição de evangelizar os americanos para a beleza do jogo. Uma ambição utópica, claro: cinquenta anos depois ainda não perceberam o encanto do futebol. Dizem que é um defeito congénito, falta de fósforo e cálcio no bom gosto.

Mas em frente, para chegar ao essencial. Um dia perguntaram-lhe o que era afinal este jogo. Phil Woosman, que era também professor de matemática e física, fez o que fazia tão bem. Simplificou o fenónemo.

«É muito simples: se a bola se mover, chuta-a, se ela não se mover, chuta-a até ela se mover.»

Esta definição, confesso, conquistou-me. Pela simplicidade e sobretudo por dizer tanto em tão poucas palavras. Tem sido impossível, por exemplo, não me lembrar dela quando vejo o Sporting de Marco Silva ou o Benfica de Jorge Jesus: equipas cheias de intensidade, de energia e de vigor.

No fundo equipas que chutam a bola até ela se mover. Sempre para a frente.

Mas este texto não é sobre o Sporting, nem sobre o Benfica. É sobre o FC Porto. Que por acaso também me faz lembrar da definição que Phil Woosman deu ao futebol: mas neste caso por oposição. O FC Porto de Julen Lopetegui é o inverso da intensidade e da emoção.

É um jogo de toque e posse de bola, sim, mas custa-me a relacioná-lo com o tiki-taka do Barcelona, e da própria seleção espanhola.

O tiki-taka, já se disse, é antes de mais uma maneira de defender bem: através da posse de bola, uma equipa retira à outra a hipótese de jogar futebol, e a partir daí de criar perigo.

No entanto nem todos os tipos de futebol de toque e posse de bola são iguais: o jogo da antiga seleção espanhola não é igual ao da seleção holandesa e o jogo que já foi do Barcelona não é igual ao do FC Porto atual.

O jogo da antiga seleção espanhola e do antigo Barcelona era vertical, com um toque de bola frontal, arriscado, através de jogadores que apareciam nos espaços. Era jogado no meio-campo adversário. O jogo da Holanda do Mundial e do atual FC Porto não: é horizontal, monótono, com variações de flanco seguras, à retaguarda e muitas vezes sem progressão.

No fundo é mais defensivo do que o tiki-taka já costuma ser: importa sobretudo não deixar o adversário ter a bola.

Provavelmente por isso os dez golos deste FC Porto só encontram paralelo em 1996: há dezoito anos que a equipa não marcava tão pouco na Liga à sétima jornada.

Bem vistas as coisas, o Porto de Lopetegui até pode ser eficaz, não digo que não. Mas nao é sedutor: é o mais defensivo de entre os três grandes. Falta-lhe intensidade e entusiasmo.

Falta-lhe no fundo aquela vertigem de chutar a bola até ela se mover.

«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias