O dirigente socialista António Vitorino considerou esta segunda-feira que a vitória do «não» no referendo na Irlanda vai fazer o Tratado de Lisboa «arrastar-se» no tempo e opôs-se a uma resposta «explosiva» para excluir este país da União Europeia.

«Sejamos pragmáticos, o Tratado de Lisboa mesmo que não esteja morto, está obviamente inviabilizado para entrar em vigor a 01 de Janeiro de 2009 e se calhar nem daqui a um ano. É preciso dar tempo ao tempo e um segundo referendo [na Irlanda] nunca ocorrerá a menos de um ano do que o primeiro», sustentou António Vitorino.

As posições do ex-comissário europeu foram assumidas no seu programa semanal de comentário político, na RTP1.

Segundo António Vitorino, «é preciso dar a palavra ao Governo irlandês para apurar as razões por que as pessoas votaram não. Mas é evidente que há mais problemas do que os que se resumem a um desconhecimento do teor do Tratado de Lisboa», apontou.

Confrontado com as possíveis soluções para se ultrapassar a crise aberta pelo «não» irlandês, António Vitorino disse que, «em teoria, há duas maneiras para resolver o problema». «A primeira é aguardar, dando tempo ao Governo irlandês, mas se o Governo irlandês disser que não há a mínima hipótese de se fazer um segundo referendo, isso significará o fim do Tratado de Lisboa», advertiu o ex-comissário europeu.

Para Vitorino, a segunda via «é mais radical, que é fazer prosseguir o processo de ratificação nos restantes 26 Estados-membros e colocar a questão à Irlanda se quer ou não permanecer na UE».

«Essa é uma estratégia explosiva, complicada - sobretudo porque a Irlanda está no euro - e politicamente errada. A Portugal serve manter a UE agregada», defendeu o ex-ministro de António Guterres.