João Pina, 17 anos, natural de Viseu. Escapou a uma vida desregulada, desprovida de planos e equilíbrio. Está há cinco anos na Casa de Gaiato de Paço de Sousa. Agora, corre o risco de ser expulso. Tudo por culpa do futebol, como se lê no título.

Na primeira pessoa, João explica tudo. «O senhor padre Júlio Pereira, diretor da Casa, quer mandar-nos embora. Não nos deixa jogar no clube da terra», lamenta, em declarações ao Maisfutebol.

No instante em que falamos, a GNR chega à instituição de apoio, situada no concelho de Penafiel. A expulsão de João e mais sete alunos está a mexer com muita coisa na localidade.

Sílvio Silva, presidente do FC Paço de Sousa, o emblema que faz sonhar João e mais sete gaiatos, acrescenta dados relevantes à história.

«O problema é grave. O que se passa é que o padre Júlio proibiu os miúdos de jogarem no nosso clube. Nós obedecemos e eles deixaram de vir. Mas eles não gostam do treinador da equipa da Casa do Gaiato. Por isso, no sábado, não foram ao treino. Estavam a jogar futebol noutro local da Casa e o padre tomou isso como uma afronta. Expulsou-os».

«Nós só queremos jogar à bola num clube oficial»


A população local e antigos alunos não reagiram bem à ordem do prior. Na noite de sábado para domingo, o próprio Sílvio Silva alimentou os oito jovens em causa.

«O senhor padre Júlio tem um bom salário e responsabilidades para com estes jovens. A Casa do Gaiato está em Paço de Sousa desde 1940 a ajudar crianças desfavorecidas. Uma expulsão por estes motivos é uma afronta à herança deixada pelo fundador, o padre Américo», diz o dirigente o FC Paço de Sousa.

«O Zé António (FC Porto B) e o Bebé (Paços Ferreira) foram alunos da Casa e a dada altura tiveram autorização para jogar em clubes externos. É o que se pede aqui também».

João, entretanto, soluça de medo. Não sabe o que se pode passar, caso seja expulso. «Nós só queríamos jogar futebol num clube oficial. Ia motivar-nos para as aulas, para tudo. Tentámos explicar isso ao padre e ele não quis saber», desabafa.

Com João nesta espera estão mais sete alunos internos. Todos entre os 17 e os 20 anos, amantes da bola, apaixonados pelo futebol. Querem dar o salto para o clube da freguesia, o diretor não deixa. A polícia, alertada, entra no caso.

«Só a GNR pode impedir a expulsão dos alunos»


Sílvio Silva sempre viveu em Paço de Sousa, paredes-meias com a Casa do Gaiato.

«Os meus melhores amigos são ex-estudantes daqui, habito a 100 metros. Nunca houve problemas com a presença deles no nosso clube. As regras são as pessoas que as fazem. Mas desta vez, o problema é diferente: o padre quer obrigá-los a jogar na equipa da Casa. E os miúdos não gostam do treinador», explica o dirigente.

«Alimentei-os no sábado à noite e se for necessário ofereço-lhes abrigo nas instalações do clube. Este domingo eles foram à missa e cumpriram com todas as obrigações. Agora, sinceramente, só a polícia pode impedir a expulsão».

O Maisfutebol ligou para a Casa do Gaiato e para o telemóvel pessoal do padre Júlio Pereira, diretor da instituição. Sua eminência não nos concedeu qualquer declaração. Ao JN disse que tudo se trata de «um caso de indisciplina grave».

No momento em que esta reportagem é publicada, a GNR encontra-se nas instalações da colónia de rapazes. A tentar demover o padre Júlio de expulsar oito alunos.