Portugal cumpriu a sua obrigação, ganhou ao Luxemburgo em casa, mas reforçou a ideia de que está longe do brilho que atingiu, por exemplo, na fase final do Euro-2012.

Dá para ir aos play-off, mas já não deu para o apuramento direto, ainda que os pecados que levaram a esse falhanço do primeiro lugar tenham sido cometidos em jornadas anteriores (o empate em casa com a Irlanda do Norte, os dois empates com Israel).

O jogo teve alguns momentos de interesse (a arte de Nani, os três golos, os pormenores de Josué e Moutinho na primeira parte), valeu também pelas novas opções que Paulo Bento vai consolidando para a Seleção principal (André Almeida, Neto, Josué, Antunes) mas pedia-se mais.

Do outro lado estava o Luxemburgo, a equipa mais fraca do grupo, e a verdade é que Portugal só conseguiu chegar ao golo quando o adversário estava com menos um.

Sem CR7, o artista foi Nani

Voltou a não ser uma grande exibição de Portugal, mas também não se esperava tal coisa.

Com a cabeça no play-off (não era muito realista esperar a conjugação cósmica que nos daria o apuramento direto na última jornada), a Seleção sabia que este jogo tinha, essencialmente, uma função redentora junto do público e no próprio grupo de trabalho, a fim de repor níveis de confiança e auto-estima, após aquele empate constrangedor com Israel.

Por outro lado, não havia Cristiano Ronaldo. E isso é sempre relevante, mesmo quando se trata de defrontar o Luxemburgo.

É mau para a Seleção estar tão dependente do talento de CR7? Tavez seja, mas isso deve ser encarado com normalidade.

Também acontece no Real Madrid (quando Ronaldo não está, os merengues perder uma boa parte do seu poder letal) e é cada vez mais notório que o mesmo acontece na Seleção.

Claro que a obrigação de bater o Luxemburgo se mantinha, uma coisa é Portugal com CR7, a outra é sem ele.

Órfão da sua maior estrela, o conjunto português teve como recompensa o reaparecimento daquele que será o seu segundo maior talento: Nani.

O extremo do Manchester assumiu responsabilidades, quis muito marcar (podia tê-lo feito logo aos nove, em remate de longe, ou aos 23, em belo cabeceamento) e marcou mesmo, fazendo o 2-0, aos 37.

Sem CR7, Nani foi o artista de serviço.

Foi só esperar pelo primeiro

A primeira parte confirmou a total superioridade portuguesa, embora os golos tenham demorado a aparecer.

A Seleção entrou forte, disposta a materializar rapidamente em golos a maior valia sobre um opositor demasiado modesto. Cinco ocasiões nos primeiros 15 minutos (com especial destaque para o cabeceamento de Coentrão à trave) dão conta desta atitude lusa.

Mas o golo não surgiu cedo e, a partir do quarto de hora, Portugal começava a dar os primeiros sinais de irritação.

Das bancadas, o público continuava com a equipa, mas o apoio começava a não ser tão entusiástico. Havia que fazer o 1-0 antes que o cenário de surpresa começasse a ganhar forma.

O primeiro golo só não surgiu ao minuto 23 porque o fantástico cabeceamento de Nani teve resposta à altura na defesa do guarda-redes luxemburguês, para canto.

Cheirava mesmo a 1-0 e então com o vermelho direto a Joachim (exagerado), as perspetivas de Portugal estar quase a marcar foram ainda maiores.

O número 13 do Luxemburgo fez falta dura sobre André Almeida, a expulsão terá sido sentença demasiado dura. Pelo menos, ajudou a deslindar o impasse. À meia-hora, Portugal chegava finalmente à vantagem, por Varela, após assistência de Moutinho.

Sete minutos depois, Nani fez o tal golo redentor, aumentando para 2-0.

Do receio de surpresa, passou-se em minutos para a perspetiva de goleada.

E de novo o desperdício

Pois, mas nem uma coisa nem outra. Já dava para perceber que a vitória não ia fugir, mas quem sonhou com goleada voltou a sentir frustração.

A exemplo do que se passou no primeiro quarto de hora, o segundo tempo português contou uma história de desperdício. Oportunidades não faltaram, mas a pontaria insistia em estar desafinado (aquela de Hugo Almeida à barra...)

Ah, e para sermos completamente justos, convém dizer também que o Luxemburgo chegou, em três ou quatro situações, a assustar a baliza de Rui Patrício.

Postiga, reforçando a vocação de marcar pela equipa das quinas, ainda fez o 3-0, conferindo ao marcador um volume de... serviços mínimos de uma Seleção já a pensar nos dois jogos do play-off.

Nesses sim, vai ser a doer. E vai ter que ser muito melhor.