O selecionador nacional Roberto Martínez apontou o triunfo na Bósnia-Herzegovina (5-0) como o ponto alto da qualificação para o Euro 2024 e destacou que Portugal foi a única equipa a vencer todos os jogos no apuramento.

«É muito difícil ganhar 10 jogos num apuramento. Fiz isso com a Bélgica e sei que é preciso ter uma equipa muito focada, que dá tudo. Neste apuramento, ninguém mais teve 10 vitórias. Não jogámos com seleções que tenham o mesmo nível individual dos nossos jogadores, mas a dificuldade está lá e as pessoas do futebol percebem isso. Depois, os adeptos e outros têm a sua opinião, e isso é saudável», afirmou, em entrevista à Lusa.

«Na Bósnia, o adversário tinha mais necessidade de ganhar do que nós. Estávamos apurados e não precisávamos de estar perfeitos. Jogámos os primeiros 45 minutos com os valores de que eu gosto. Competitividade, objetividade, qualidade no ataque rápido. Foi o jogo que deu mais satisfação. Fomos perfeitos com Luxemburgo do primeiro ao último minuto, mas precisávamos de ganhar. Contra a Bósnia podíamos escolher jogar bem ou não. Jogámos bem. E gostei muito disso», disse ainda.

Martínez considerou ainda que Bruno Fernandes fez um apuramento «perfeito», depois de ter participado em todos os jogos e contribuído com seis golos e oito assistências.

«O Bruno tem liderança. Durante o jogo, tem um cérebro muito ativo e consegue apreciar constantemente o que está a acontecer no relvado. Tem uma capacidade de leitura muito, muito alta. E pode atuar em várias posições. Fez um apuramento perfeito e teve um papel muito importante. Jogou em quatro posições diferentes a um nível muito alto», vincou.

Apesar da campanha de Portugal no apuramento, com o máximo de 30 pontos e um recorde de 36 golos marcados e apenas dois sofridos, Martínez considera que Portugal tem de demonstrar na fase de grupos do Euro 2024 que é favorito à conquista do título.

«Para ter sucesso no Europeu, precisamos de crescer durante os primeiros três jogos. No passado, seleções históricas com Espanha, Inglaterra, França, Bélgica, Itália e Alemanha ficaram mais próximas de chegar aos títulos crescendo durante o torneio. Fazemos agora parte desse grupo e temos tudo para poder lutar», assegurou o selecionador, que admitiu ser preciso estar «num nível muito alto» na Alemanha.

«O mesmo sonho, a mesma paixão, mas com muito mais experiência. Sei que é muito importante o grupo de jogadores, de pessoas, para uma fase final. Ganhar jogos reside nos detalhes e temos um grupo que mostrou compromisso e que assume a responsabilidade de jogar pela seleção, mas também de querer desfrutar de um sonho», salientou.

«Vamos olhar e dar oportunidade a jogadores que tiveram uma boa época, uns 12 meses de bom futebol e que merecem estar com a seleção. É o momento para ganhar ainda mais informação sobre os jogadores. Será uma altura para focar nos jogadores. Depois, mais tarde, em maio, será o momento de tomar decisões. Lesões, momentos de forma, atitude, o que o jogador fez. Há muitos fatores para a convocatória final», lembrou.

A surpresa com o convite da seleção portuguesa

Roberto Martínez assumiu ainda que ficou surpreendido com a proposta para comandar a seleção portuguesa, no início de 2023, numa altura em que pensava regressar à competição de clubes.

«Após sete anos na Bélgica, o passo normal seria voltar a um clube. Parecia natural. Foi um momento de decisão da minha vida. Mas, quando tive uma reunião com o presidente (da FPF), fez sentido totalmente usar a minha experiência do futebol de seleções», contou o técnico de 50 anos.

«Foi inesperado, totalmente inesperado. Mas acredito nisso. Gosto muito do sentimento de acordar no próximo dia e ter uma missão. Agora, estou onde quero estar, tenho uma oportunidade única e é com orgulho que vou fazer tudo para termos sucesso no Europeu», acrescentou.

Nascido na Catalunha, Martínez começou a sua carreira de jogador em Espanha, passado sobretudo pelo Saragoça, mas, cedo, com 22 anos, rumou ao futebol inglês. Mais tarde, viria a treinar Wigan, Swansea e Everton.

«Nunca pensei que iria jogar e treinar 21 anos no futebol inglês. Faz parte da minha formação, do que tenho nos meus valores como treinador e na forma de jogar. O futebol para mim não é um trabalho, é uma paixão, uma forma de viver. O melhor papel é jogar e o segundo melhor é treinar», confessou.

«Se tivesse ficado em Espanha, seria um treinador totalmente diferente. A cultura ibérica, Espanha, Portugal, também Itália, é tentar ganhar faltas, é tentar complicar a vida ao árbitro. Na cultura britânica, isso não é permitido no balneário. Há regras claras de fair-play, forma de jogo, ter jogo útil com responsabilidade dos jogadores. Por isso, quando fui para Inglaterra, mudei rapidamente», concluiu.