João Sousa iniciou a sua vida de «jogador reformado» sem quaisquer planos para o futuro, mas realizado com a carreira que terminou esta quarta-feira no Estoril Open da qual se despede de «consciência tranquila».

«De jogador reformado, é isso?», brincou o melhor tenista português de sempre ao ser questionado como se sentia na sua nova condição, antes de prosseguir: «É especial».

«Hoje é um dia especial pelo momento, obviamente, não pela derrota, mas também era um bocadinho expectável. Acho que, apesar de não estar nas melhores condições físicas, dei tudo nos últimos tempos para estar a cem por cento aqui. E, apesar de tudo, acho que não fiz um mau encontro. Acho que é muito mérito do Arthur [Fils], que acho que fez um excelente encontro», avaliou o português, referindo-se à derrota por 7-5 e 6-4 diante do francês, na primeira ronda do Estoril Open.

Sousa assumiu que só percebeu que estava perto do fim quando enfrentou o match point, ou mais precisamente nesse derradeiro jogo, quando olhou para a sua box e viu as pessoas que o acompanhavam, nomeadamente o treinador Frederico Marques, emocionadas.

«Foi aí que percebi que o fim estava próximo. É o que é», pontuou.

Na sala de imprensa, o vimaranense de 35 anos confessou, visivelmente descontraído, que eram muitas as memórias que, naquele momento, lhe passavam pela cabeça, dos «muitos momentos» passados no Clube de Ténis do Estoril, onde se sagrou campeão em 2018.

«Não é um momento de tristeza, é um momento de alegria, porque acho que, independentemente de tudo, sempre dei o meu melhor. Estou de consciência tranquila. As pessoas, às vezes, perguntam-me acerca disso. Eu estou de consciência tranquila. Dei o meu melhor sempre para ser melhor jogador, para tentar alcançar os meus objetivos. E, como digo, independentemente da derrota, obviamente gostaria de ter dado vitórias aos portugueses, mas não foi possível. E, portanto, tenho que aceitar isso com naturalidade», disse.

O melhor tenista português de sempre recordou os «muitos anos de desgaste, não só físico, mas também mental», além dos muitos momentos duros que viveu numa modalidade que é uma «forma de viver».

«Não é um desporto. Nós temos que viver o ténis. E foram muitos anos dedicados a isso, à alta competição, ao ténis, a querer ser melhor. E, portanto, segue-se um período de reflexão bastante profunda, de tentar descansar também desta alta roda e da competição, que acho que é importante. Mas acredito que outros capítulos virão, certamente relacionados com o ténis», comentou.

Um deles pode passar por vir a ser selecionador de Portugal, uma hipótese sobre a qual ainda não tinha pensado, mas que pareceu agradar-lhe. «Boa pergunta. Primeiro de tudo, já temos um capitão [Rui Machado] e acho que tem feito um excelente trabalho. E eu, futuramente, sim, eu acho que seria algo que eu poderia fazer, por que não? A Taça Davis é uma competição que me diz muito […]. Sempre que fui convocado, nunca falhei uma única eliminatória da Taça Davis e realmente sinto que não existe maior honra do que representar o nosso país na maior das competições que existe a nível de países e vivi muito intensamente a Taça Davis», lembrou.

Recordista de internalizações (33) por Portugal, Sousa, que acabou muitas delas «destruído», concedeu que, para si, seria um bom plano de futuro. «Se eu for convidado a fazê-lo, acredito que seria uma boa opção. Não sei se seria uma boa opção, mas, pelo menos, para mim, faria sentido», disparou, provocando risos na sala.

Já com a carreira encerrada e com a perspetiva de passar uma quinta-feira «desligado» finalmente do ténis – «O Frederico [Marques] queria que eu treinasse às 10h00 da manhã, mas isso não vai acontecer» -, na companhia das pessoas que sempre o acompanharam, o agora retirado tenista português resumiu o seu sentimento: «Eu não diria aliviado, eu diria realizado».

«A palavra é um bocadinho mais adequada a esse momento. Acho que é realizado. Sinto-me realizado. O ténis é um desporto muito exigente. A competição todas as semanas, aquele nervosismo miudinho antes da competição. É difícil de gerir. E saber que não o vou ter, não sei se vou sentir falta disso ou não, mas, neste momento, também me senti aliviado», admitiu ainda.