José Mourinho comparou o futebol atual com os tempos em que foi treinador adjunto no Barcelona ou no FC Porto e diz que a comunicação entre os jogadores era melhor nessa altura.

«Comparando com a época em que era adjunto no Barcelona ou do FC Porto, há cerca de 25 anos, os jogadores passavam mais tempo juntos. Não havia Xbox, PlayStation, nem redes sociais. Os telemóveis estavam a aparecer. Quando íamos para o hotel, estávamos sempre juntos e era muito mais fácil criar intimidade, confiança e construir uma dinâmica de grupo», disse o técnico do Tottenham em conferência de imprensa.

«Agora, os jogadores estão no hotel, cada um no seu quarto, mas não estão sozinhos. Estão no Zoom com os amigos ou família, ou no FaceTime, nas redes sociais, a jogar videojogos, e não precisam de estar no mesmo espaço. É a sociedade de agora, a interação é diferente, e a comunicação também não é como era antes», frisou.

«Isso é algo que temos de estar constantemente a estimular para que os jogadores não se fechem nas suas conchas. É um esforço de equipa, de grupo, um desporto de equipa – ninguém joga sozinho. Uma equipa deve ser mais que uma soma de indivíduos. É preciso interação, comunicação, partilha de ideias. É preciso discutir o que aconteceu no jogo, é preciso que os jogadores se motivem uns aos outros. Eu acredito nisso, mas sei que há treinadores que não o fazem», disse ainda Mourinho.

«Incomoda-me o silêncio. Odeio o silêncio no balneário, os monólogos, não gosto de estar 20 minutos a falar para os jogadores sem qualquer interação. Às vezes estimulo isso com a minha forma de ser e de liderar. A equipa mostrou-me que precisa de melhorar nesse aspeto», acrescentou o técnico.

Mourinho falou depois sobre a discussão entre Lloris e Son, no jogo frente ao Everton, e disse ainda que nas suas equipas há coisas que não são negociáveis: «A atitude, alma, identidade, carácter».

«Posso falar sobre equipas vencedoras porque estive em algumas e disse aos jogadores que, para ter uma equipa vencedora, há certas coisas que são inegociáveis – atitude, alma e caráter», disse o técnico, acrescentando que isso não garante os resultados devido à «imprevisibilidade» do futebol.

«Por vezes mereces vencer e não vencer, mas esses aspetos são inegociáveis. Ser exigente consigo próprio e com os outros, ser uma fonte de motivação para ti e para o teu colega de equipa. Muitas vezes, isso leva a desentendimentos, discussões, mas isso é importante», frisou.

«Fiquei feliz com a atitude dos jogadores nesse jogo. Claro que preferia que a discussão fosse no balneário porque as pessoas podem interpretar as coisas de modo errado. Mas acho que foi algo novo que aconteceu na equipa, algo que os jogadores fazem mais internamente, serem exigentes uns com os outros para que possam crescer juntos», garantiu Mourinho.

Outro dos temas abordados foi a suspensão de Eric Dier pela Federação Inglesa de Futebol (FA) por quatro jogos, depois de ter confrontado um adepto após a derrota do Tottenham com o Norwich. «Não tenho reação. Prefiro não reagir. Se responder, vou arranjar problemas e não os quero arranjar, por isso não tenho comentários», respondeu Mourinho.