Tozé não será o típico nerd mas conciliou o desenvolvimento como jogador e os estudos. Com distinção, aliás. O jovem que Vítor Pereira lançou frente à Olhanense terminou o 12º ano com média de 20!

Em 2011, o médio ofensivo foi chamado à Câmara Municipal do Porto para ser galardoado com o «Rumo à Excelência», o prémio de mérito escolar instituído pela autarquia.

António José Pinheiro de Carvalho (Tozé), que concluiu o ensino secundário na Escola António Nobre, foi premiado como o melhor aluno do ensino secundário das escolas públicas do concelho do Porto.

Nessa condição, entrou no edifício da Câmara e foi fotografado ao lado de Rui Rio. «Por acaso, brinquei com o Rui Rio nesse dia e disse-lhe: olhe, o presidente Pinto da Costa não entra aqui mas o meu filho entrou.»

O pai de Tozé não evita as gargalhadas quando recorda o episódio. «Quando eu disse isso, ele não sabia quem eu era. Fui acompanhar o meu filho. No final, até veio ter comigo para perguntar porque é que eu tinha dito aquilo. Mas com boa disposição. Lá me apresentei, ele já sabia que o Tozé era jogador do F.C. Porto».

A matrícula à espera do aluno

Tozé manteve o rumo e seguiu para o ensino superior. Este ano, está matriculado em Medicina Veterinária no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. Mas o tempo escasseia.

«Este ano, ainda não conseguiu tempo para os estudos. Como representa também a seleção, pediu entretanto o estatuto de atleta de alta competição, para tentar conciliar melhor os horários.

José Armando Carvalho não se deixa iludir. «As coisas correm bem e ele agora é maior de idade, tem a rédea mais larga da minha parte, mas sempre lhe disse que o futebol são dois/três dias, o resto será a vida dele.»

O pai não fala em vão. Passou por algo semelhante no passado, no final da década de 70.

«Eu jogava no Forjães quando o clube estava na III Divisão, mas fui estudar Medicina Dentária para Lisboa. Só que o treinador Virgílio Mendes (ex-jogador do F.C. Porto) gostava tanto de mim que convencia o clube a pagar-me viagens de avião só para eu ir jogar. Mas eu disse sempre que os estudos eram a prioridade.»

Forjães em festa com o jovem dragão

A estadia em Lisboa permitiu a José Armando Carvalho alimentar uma paixão assumida. «Sou benfiquista, não escondo. Quando estava lá, ia a tudo, treinos e jogos, mas também pelo amor ao futebol. Não sou doente.»

«Em Forjães, há outros benfiquistas mas se isto continuar assim para o Tozé, vai haver festa de campeão para o F.C. Porto com todo o gosto, claro. Até porque ele ainda mora aqui comigo, portanto é sempre acarinhado por todos», explica o pai.

Os amigos também vibraram com a estreia do médio ofensivo. Kiki Afonso, que representou o F.C. Porto entre 2007 e 2011, salienta o mérito de Tozé. «No F.C. Porto, é muito complicado para um jovem português chegar à equipa principal. Ele conseguiu porque tem muito mérito e grande qualidade.»

«Eu cheguei a treinar com o plantel no último ano de juvenil, mas treinar consegue-se, jogar tem sido muito mais difícil. Talvez a partir de agora as coisas mudem», remata Kiki, que saiu para o Rio Ave na época passada.

Jucie Lupeta despede-se da mesma forma. Fala como antigo dragão, pois abandonou o clube em 2012, mas dá os parabéns a Tozé. «Quis telefonar-lhe logo depois da estreia, mas decidi esperar uma semana. Ele deve estar a ser contactado por toda a gente e não quis incomodá-lo.»

«Ele falava connosco sobre a paixão pelos animais e pela Medicina. Todos sabíamos que ele ambicionava ser veterinário, mas dizíamos-lhe que isso só ia acontecer depois de acabar a carreira de profissional de futebol», remata Lupeta. Os amigos terão razão?