Perto de cem antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) cumpriram este domingo mais uma jornada de luta, pedindo ao Governo que seja justo e dê resposta às suas reivindicações, avança a agência Lusa.

Alternando percursos a pé e de autocarro, os antigos trabalhadores percorreram os cerca de 25 quilómetros entre a Urgeiriça (Canas de Senhorim, Nelas) e a Cunha Baixa (Mangualde) - dois importantes coutos mineiros da ENU - gritando frases como «A luta continua» e «Sócrates escuta, os mineiros estão em luta».

Indemnizações aos familiares dos que morreram

Em causa está o facto de mesmo aqueles que não tinham vínculo à ENU na data da sua dissolução virem a ser abrangidos por um decreto-lei (nº 28/2005, de 10 de Fevereiro) que os equipare a trabalhadores de fundo de mina, dando benefícios na idade da reforma, e o pagamento de indemnizações aos familiares dos que morreram de doenças relacionadas com a exposição à radioactividade.

Os antigos trabalhadores saíram a pé cerca das 8h30 de junto das instalações da ENU, na Urgeiriça, e fizeram a sua primeira paragem junto à Barragem Velha, antigo local de depósito dos resíduos da exploração do urânio, que entretanto foi selado.

Homenagem aos ex-trabalhadores da ENU falecidos

Aí, como explicou o porta-voz da comissão de antigos trabalhadores da ENU, António Minhoto, num gesto simbólico, colocaram uma placa com a inscrição «Inauguração em homenagem aos ex-trabalhadores da ENU falecidos».

Cinco anos de luta sem resultados

Segundo António Minhoto, «ao fim de cinco anos de luta» os antigos trabalhadores da ENU não têm «outra saída senão vir para a rua e exigir que este Governo seja demitido e que uma nova política e um novo Governo» saiam das próximas eleições.

Presente na «marcha» esteve a eurodeputada do PCP Ilda Figueiredo, a mostrar a solidariedade com a luta dos antigos mineiros e das populações da região. «Lutam para que lhes sejam reconhecidos os direitos de um trabalho muito duro e perigoso. Sabemos que estas não eram umas minas quaisquer, mas minas de urânio, e que, portanto, as pessoas despedidas ou que de algumas forma deixaram de trabalhar porque as minas entretanto encerraram têm hoje sintomas do trabalho duro e das radiações», justificou à agência Lusa.

Sintomas das radiações

Ilda Figueiredo lembrou que «o Governo já por diversas vezes prometeu que ia resolver o problema, mas o problema continua por resolver», havendo ainda mineiros que não fizeram os exames médicos completos e viúvas «a receber reformas de miséria porque os maridos morreram devido ao trabalho na mina».

«Quando é para o sector financeiro aí está o Governo prontinho a abrir os cordões do cofre do Estado para dar todo o apoio, quando se trata de trabalhadores ex-mineiros, de gente que sofre as consequências das radiações das minas de urânio, o Governo fica quieto e calado e faz de conta que não houve».