Aos 27 anos, Rui Silva viveu nas últimas duas épocas os melhores momentos enquanto andebolista. Tanto na seleção, com as classificações históricas no Europeu de 2020 e no Mundial de 2021 – além da qualificação para os Jogos Olímpicos; como no FC Porto, com campanhas também elas históricas nas competições europeias e o primeiro título nacional no currículo do central.
Sim, porque apesar de jogar na primeira divisão há 12 anos, Rui Silva andou afastado do título nacional durante muito tempo.
Enquanto jogou no Sporting, o FC Porto dominou o andebol nacional. E quando se mudou para os dragões, viu o ABC e o Sporting serem campeões, antes de também ele saborear o feito.
Nesta parte da entrevista ao Maisfutebol, o central fala disso, mas também da vontade-extra de conquistar os títulos esta época em disputa para dedicar a Alfredo Quintana.
E revela ainda como se sente bem no FC Porto, e de como o desejo de jogar no estrangeiro se ter desvanecido nos últimos anos, apesar de a porta não estar totalmente fechada.
MF: Para quem o vê há tanto tempo no mais alto nível, é estranho perceber que só tem um título nacional no currículo…
Rui Silva: Sim, é verdade. Só ganhei um campeonato nacional. Quando estava no Sporting, o FC Porto conquistou os sete títulos consecutivos. Depois mudei e só conquistámos o título há dois anos [risos].
MF: O que ainda lhe falta conquistar, então?
Rui Silva: Falta-me conquistar mais títulos nacionais. E falta subir mais um degrau a nível internacional. Isso é algo que eu quero realmente. E tenho a certeza de que o FC Porto também quer. Temos capacidade para o fazer, como temos provado. Mas não se pode parar. Temos de manter os pés na terra e ambicionar cada vez mais.
MF: Esse próximo nível será, por exemplo, eliminar o Aalborg nos oitavos de final da Liga dos Campeões?
Rui Silva: Sim, acho que sim. Seria um passo gigante atingirmos os quartos de final da Liga dos Campeões. Também porque os íamos defrontar quando a pandemia parou tudo no ano passado. Temos esse desafio para superar e poder dizer que estamos entre as oito melhores equipas da Europa. Acho que seria absolutamente incrível para o FC Porto.
MF: Sentem que este ano, por tudo o que aconteceu, a responsabilidade de ganharem é ainda maior?
Rui Silva: Sim. Embora no FC Porto a obrigação seja sempre essa, este ano temos uma obrigação ainda maior. Temos essa dívida para com o Quintana. Temos de conquistar este título nacional e a Taça de Portugal também, porque vão ser os últimos títulos dele. E queremos dedicar-lhos.
MF: Com aquilo que tem feito na seleção e no FC Porto, tem ganhado muita visibilidade. Jogar no estrangeiro é um objetivo?
Rui Silva: Já foi mais, sinceramente. Neste momento sinto-me muito feliz onde estou e não será fácil mudar para um clube que esteja num nível tão alto como está o FC Porto. O FC Porto joga a Liga dos Campeões, luta por passar a fase de grupos e agora até tem a possibilidade de ir aos quartos de final. É difícil chegar a um clube tão forte como este. Enquanto acharem que eu estou bem no FC Porto e me desejarem, eu também desejo estar no FC Porto. Por isso, sair não é um objetivo prioritário para mim.
MF: Mas é uma opção que está totalmente descartada no futuro?
Rui Silva: É óbvio que pode aparecer a oportunidade de uma vida e poderá ser difícil dizer que não. Há clubes que são de topo mundial – e não é que o FC Porto não seja -, que sempre tiveram muita história no andebol internacional e que lutam por ganhar a Liga dos Campeões. Mas neste momento, mesmo a nível pessoal, não é uma possibilidade que me massacre e à qual dedique tempo a pensar.
MF: Mas sente que as portas dos melhores campeonatos do mundo estão abertas para os andebolistas portugueses como nunca estiveram antes?
Rui Silva: Sim, sem dúvida. Está mais do que visto que temos qualidade. Temos provado isso ao longo destes últimos anos. Acho que é um caminho que o andebol português deve continuar a trilhar. Muitos dos jogadores da seleção ainda são do FC Porto e outros jogam em Portugal, mas acredito que cada vez mais comecem a surgir jogadores portugueses nos grandes clubes. E espero que todos os jogadores portugueses que tenham essa possibilidade, que a agarrem e tenham todo o sucesso do mundo. Porque estão a tornar o andebol português mais grandioso. Estou muito contente que a realidade do jogador português tenha mudado e que as pessoas possam olhar para nós como atletas de topo.