O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

DIOGO RAMOS, DOXA (CHIPRE):

«Olá a todos os leitores,

Aqui estou mais uma vez para relatar a experiência pela qual estou a passar no Chipre, onde represento o Doxa Katokopias. Apesar de ser um país que sofreu grandes influências gregas e de outras civilizações antigas, a vida cultural do Chipre demonstra claramente a sua colonização britânica e possui uma grande movimentação de turistas durante o período de verão, onde o calor e sol são muito fortes.

O inglês é bastante falado, o que facilita a nossa estadia. Curiosamente, no Doxa falamos sobretudo português no balneário. O treinador fala em inglês e o capitão traduz para os outros jogadores na nossa língua.

A equipa é formada por um sérvio que jogou em Portugal, três brasileiros e três cipriotas. De resto, é só espanhóis e portugueses. A música está sempre presente no balneário e outra curiosidade é termos bananas e laranjas no final de cada treino. É uma oferta do Papa, diretor do clube.

Por aqui treinamos sempre de manhã e geralmente eu e o meu companheiro de casa aproveitamos as tardes para umas sessões de ginásio com o nosso Personal Trainer (Pedrinho).

No Chipre raramente fazemos estágios já que tudo é relativamente perto. Uma das dificuldades iniciais foi o facto de aqui se conduzir pela esquerda, mas nesta altura já estamos perfeitamente adaptados.

Outra curiosidade gira em torno dos gatos. Aqui são em tamanho XXL e às dezenas nas ruas. Aqui em baixo do nosso prédio encontro sempre cinco à entrada. Um pouco como acontece com os cães em Portugal.

No futebol facilmente encontramos portugueses em todas as equipas. O Chipre é um país muito calmo para viver, sem sinais de roubos ou vandalismo (para terem uma ideia, os senhores da mercearia em baixo do nosso prédio deixam muita coisa cá fora durante a noite) e as pessoas muitas vezes deixam os carros abertos. Não existem roubos. A temperatura aqui é boa, quase não chove mesmo no inverno as praias são lindíssimas (recomendo Ayia Napa para umas excelentes férias, como podem perceber na fotografia).



O povo cipriota tem o lema de deixar sempre as coisas para amanhã, exceto quando estão a conduzir. Nessas alturas, estão sempre a apitar e facilmente passam um sinal vermelho se virem que não vem ninguém no sentido contrário. O grande vício dos homens aqui são as casas de apostas que funcionam também como cafés (já que as casas de apostas tem centenas de televisões e as bebidas são servidas gratuitamente para o apostador se sentir em casa). Nos grandes jogos, essas casas estão sempre à pinha, uma verdadeira agitação.

Os adeptos são fanáticos pelos seus clubes. Há uma semana, o campeonato parou porque rebentou uma engenho explosivo num carro de um árbitro! Dá gosto jogar contra aquipas como Apoel, Omonia, Apollon, Anorthosis e claro o AEL, com os seus fanáticos adeptos que fazem um ambiente fantástico nos jogos.

Curiosamente, ao contrário de nós, aqui não vivem intensamente a seleção. Para terem a noção, no último jogo da seleção do Chipre fui ao estádio com outros colegas e, mesmo com entrada gratuita, só abriu uma bancada.

A minha adaptação a este novo país foi fácil, muito por culpa dos outros portugueses e as relações próximas que se criaram. Estive a jogar alguns anos na Roménia e posso dizer que não fiz um amigo. Já aqui, sei que vou levar amigos para a vida.

Os nossos jantares são frequentes como este que está aqui na fotografia com o Pedrinho, Vitalii, Carlitos, Gleison e Nilson.


Quem perde nos torneios de FIFA tem de lavar a louça! Todo este ambiente minimiza as saudades que temos da família e amigos. Reunimo-nos mais vezes já que somos os únicos portugueses sem a família aqui. Neste jantar, a mulher e a filha do Nilson estavam presentes mas no meu caso, a minha esposa não pode vir para o Chipre por razões profissionais.

Vivo com um colega chamado Nilson, é internacional cabo-verdiano e o melhor lateral esquerdo do campeonato do Chipre. Em casa, como fazem muitos emigrantes, ligamos o computador ao televisor e seguimos os jogos de Portugal. Ele vibra com o Benfica e eu com o meu FC Porto.

Outro passatempo aqui no Chipre é a comida. Aqui em casa sou eu o cozinheiro. A comida é muito parecida com a de Portugal mas não temos bacalhau e outras variedades de peixe. No Doxa, depois de uma vitória aparece sempre um jantar de equipa com as famílias. Mas isso é só mesmo quando ganhamos!

Depois da primeira crónica para o Maisfutebol, fiz o meu primeiro golo pelo Doxa. A equipa está nas meias-finais da Taça do Chipre e tenho o sonho de escrever a próxima crónica para descrever como é jogar e ganhar uma final neste país.

Em breve trarei mais novidades sobre o meu dia a dia no Chipre. Para já, estou a gostar bastante desta nova experiência!

Abraço,

Diogo Ramos»