David Simão tem 23 anos e procura um novo rumo no FC Arouca. Apontado como enorme promessa do Benfica, passou por quatro períodos de empréstimo e fez apenas dois jogos na equipa principal dos encarnados, ambos para a Taça de Portugal. Saiu de vez.

Em conversa com o Maisfutebol, o médio esquerdino deixa a sua opinião sobre o aproveitamento dos escalões de formação em Portugal. Considera que o Benfica tem potencial nas camadas jovens para rentabilizar mas critica os clubes em geral.

«Sinto que há dificuldades para os jovens em todos os clubes com poder financeiro. É sobretudo o Benfica e o F.C. Porto em Portugal, mas o mesmo acontece lá fora. Basta ver exemplos como o Real Madrid, o Arsenal, o Chelsea ou o Manchester United. Há exceções como o Barcelona, mas são poucas», começa por dizer.

David Simão não esconde o desalento perante o cenário: «Sobretudo, é difícil ser um jovem português em Portugal. Deveria haver um limite de estrangeiros, uma maior proteção dos jogadores portugueses.»

«O Benfica tinha e tem um plantel de grande qualidade, mas penso que aqui e ali devia haver uma aposta com continuidade em jovens da formação. Poderia ser um jogo com dez titulares e um jovem, ou um jovem no banco para entrar num jogo que estivesse 2 ou 3-0. Esse seria o contexto ideal», considera.

O seu exemplo é curioso. «Fiz apenas um jogo como titular no Benfica. Foi frente ao Portimonense, para a Taça de Portugal, e as críticas até foram positivas. Não guardo rancor, fiquei feliz pela passagem pelo Benfica, joguei com elementos de grande qualidade. Mas acho que, no meio de tantos craques, não iria desiludir.»

«Nenhum adepto colocaria o André Gomes a titular»

David Simão não conquistou espaço no Benfica de Jorge Jesus. André Gomes foi a aposta seguinte, sem afirmação plena no onze encarnado. A abundância de qualidade condiciona a afirmação.

«Deixo aqui um desafio: acho que se pedissem a qualquer adepto do Benfica para fazer um onze, nenhum deles colocaria o André Gomes a titular. E estamos a falar de um grande jogador. Percebo que haja muitas soluções mas era um elemento que devia ser lançado durante os jogos, por exemplo», salienta.

Os adeptos gostariam de ver mais jovens da formação mas apostam sobretudo nos resultados, segundo David Simão: «Em minha opinião, os adeptos vivem sobretudo de resultados. Se a equipa vencer e tiver jogadores da formação, ainda melhor. Mas o mais importante é mesmo vencer.»

«Como disse, é um problema estrutural. Devia ser como em Espanha ou Inglaterra, com limitações para jogadores extra-comunitários. Seria incapaz de contestar a contratação de jogadores de qualidade como Lucho González, Pablo Aimar, Angel Di María ou Nicolas Gaitán, mas há outros sem qualidade para vir», considera o esquerdino.

«Conheço muitos que deixaram de jogar futebol»

Os clubes grandes produzem fornadas de jovens mas não conseguem apresentar soluções no final do período de formação. «Há muitos jovens da formação que não encontram soluções na transição para os seniores. Nem todos podem ficar na equipa principal, isso percebo, mas conheço muitos que acabaram por deixar o futebol», frisa.

«Alguns só têm propostas dos distritais, e não compensa ir ganhar 100 euros e gastar 200 em gasóleo, por exemplo. Há alguns que saem dos juniores com moral, já com alguma visibilidade se estiverem nas seleções nacionais, mas muitos caem após essa fase», lamenta David Simão.

O médio apresenta um exemplo próximo. O seu irmão viu-se obrigado a emigrar em 2006. Bruno Simão representa atualmente o FC Dacia da Moldávia: «O meu irmão, por exemplo, andou pelas seleções jovens, jogou com o Cristiano Ronaldo, mas acabou por ir lá para fora. Tem qualidade para jogar aqui, mas teve de sair.»

«Por outro lado, temos jogadores da América do Sul a vir para Portugal, mesmo para uma segunda Liga, a ganhar 1000 euros mais casa paga. Às vezes corre bem e dão craques, mas muitos falham e está-se a roubar espaço aos jovens portugueses», afirma.

David Simão deixa até um aviso: essa realidade já chegou aos escalões de formação: «É uma questão que já chegou até aos escalões de formação, nos juvenis e juniores. Mas os clubes deviam repensar isso. É mais importante ser campeão de juniores ou formar jogadores? Conheço alguns que foram campeões há pouco tempo nesse escalão e já deixaram o futebol.»

«Curiosamente, há dias estava a falar com o meu irmão sobre o Vlad. Foi júnior do Benfica mas mandaram-no embora porque não jogava. Voltou à Roménia, foi aposta forte no país dele e agora rendeu 8 milhões de euros ao Steaua, que o transferiu para o Tottenham», remata o esquerdino, no final da conversa com o Maisfutebol.