No meio da turbulência financeira, que está a fragilizar instituições de relevo, houve quem tenha conseguido utilizar a conjuntura para ganhar dinheiro.

De acordo com o diário «El Pais», um exemplo de como se pode utilizar a crise a seu favor é a estratégia aplicada pelo multimilionário John Paulson, director da gestora de fundos de alto risco, Paulson & Co., que saiu muito bem sucedida pela sua estratégia «pró-crise». Assim, só no ano em que a maior economia do mundo sofria com o «subprime», o antigo director do Bear Stearns-uma das instituições afectadas pela turbulência-ganhou um salário de até 2,5 mil milhões de euros.

Recorde-se que um «hedge fund» é um fundo de investimento que tem como propósito obter a maior rendibilidade possível, utilizando para tal todas as possibilidades que possa haver ao alcance do gestor, sem limites. Ora, este milionário ganhou mais de mil milhões de euros criando pequenas participações em algumas das maiores instituições financeiras do mundo.

O método é simples, mas arriscado: aposta-se na baixa de acções, vendendo-se títulos emprestados, esperando que os mesmos baixem a sua cotação para se obter a consequente margem de ganhos sempre que isso acontece.

A prática é lucrativa e arriscada, mas é proibida pelo Governo norte-americano no pacote de medidas que está em discussão para se sair da crise, e que terá um custo estimado de 700 mil milhões de dólares.

Este tipo de actuação também pode depreciar o valor de uma acção. Em Nova Iorque estão a ser investigadas as vendas a descoberto realizadas durante a crise, perante a suspeita de que possa ter havido operações ilegais.

Antes de Paulson, houve também o caso de George Soros, outro investidor que conseguiu prever a crise no sector imobiliário de alto risco que, só em 2007, ganhou algo como 2 mil milhões de euros

CMVM proíbe «short-selling»

Por cá, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) decidiu proibir a prática de «short selling» (vendas curtas) em Portugal, ou seja, a venda de acções sem que o investidor as tenha em carteira. A justificação é que esta facilita a manipulação de mercado.

«A CMVM estabelece que, durante um período limitado, os membros do mercado Euronext e do PEX devem recusar as ordens de venda de acções e outros valores mobiliários com elas relacionadas relativas a empresas financeiras cotadas na Euronext Lisbon quando o ordenante não lhes assegure, no momento em que é dada a ordem de venda, a disponibilidade prévia integral dos valores mobiliários objecto da ordem», explicou esta semana em comunicado.

Mas o regulador não se fica por aqui e determinou também que «os membros dos mercados divulguem informação ao público sobre os investidores que assumam uma posição curta (short selling) sobre acções de empresas financeiras que excedam 0,25% do capital social das mesmas empresas financeiras».