Vitor Pereira recordou o «golpe de teatro» que aconteceu no campeonato português em 2012/13, quando o Benfica visitou o FC Porto na penúltima jornada e um golo de Kelvin, nos descontos, fez com que os dragões ultrapassassem os encarnados na tabela e ficassem lançados para conquistar a Liga.

«Nunca mais voltei a ver aquele jogo. Só de pensar naquele momento, fico arrepiado. Foi para viver experiências assim que me tornei treinador de futebol. É impossível descrever a emoção que invadiu o meu corpo com o golo do Kelvin. Uma sensação que carregarei para sempre», afirmou, em entrevista ao Coaches Voice.

«Tenho a impressão de que ninguém no estádio teria feito as substituições que fiz no segundo tempo. Mas foi o meu feeling. Uma espécie de conexão com Deus. Não esperava contribuições táticas de Kelvin. Pedi apenas para que fizesse o que mais gostava: pegar na bola e partir para cima do adversário. "Diverte-te, joga com confiança, joga do teu jeito"», prosseguiu.

«A ideia era tentar conquistar um penálti, uma falta perigosa, algo assim. Eu sentia que o Kelvin podia tirar algum coelho da cartola», disse ainda.

O técnico considerou que «o Benfica tinha o melhor plantel do futebol português» e era comandado por um «grande» treinador. «Aquele Benfica, de Jorge Jesus, tinha muitas soluções. Se o Benfica tinha alguma fragilidade, ela estava nos momentos em que a equipa priorizava defender uma vantagem. Noutras palavras, quando o Benfica estava a vencer o jogo e adotava uma faceta mais defensiva, apresentava algumas vulnerabilidades.»

«E foi o que aconteceu naquele dia. Ao fazer substituições de caráter mais defensivo, o Jorge Jesus mandou uma mensagem aos seus jogadores. "É hora de controlar o jogo, de compactar a equipa"», lembrou.

Vítor Pereira assumiu ainda que a sua equipa «passava a sensação de estar sempre no controlo das situações», mesmo em «contextos extremos», como esse Clássico, onde foi capaz de «manter o foco e seguir o plano».

O técnico português recordou ainda que o início do percurso como treinador principal do FC Porto «não foi nada fácil».

«Convivi com muitas críticas e desconfiança dentro da própria comunidade portista. Antes de me tornar o treinador principal do clube, fui adjunto de André Villas-Boas. Herdei seu cargo quando ele partiu um novo desafio, no Chelsea», lembrou.

«Nenhum ex-adjunto conseguiu ter sucesso ao ganhar a oportunidade de se tornar o técnico principal do FC Porto. A minha história é um caso único no clube. A pressão era enorme. A minha experiência mais relevante como treinador principal, até então, havia sido no Santa Clara, na segunda divisão de Portugal. E os dois títulos consecutivos da liga, nos dois anos que estive no comando, fecharam de maneira perfeita o meu ciclo no FC Porto», acrescentou.