Nesta altura já ninguém tem dúvidas: 85 golos e 44 assistências depois, a pertinência dos 4,5 milhões de euros investidos pelo FC Porto em Taremi está mais do que provada.

Já ninguém tem dúvidas, repete-se, mas talvez nem todos tenham memória.

A verdade é que não foi apenas o FC Porto que se empenhou em garantir Taremi. O próprio Taremi também realizou um esforço considerável para poder jogar no FC Porto. Ao ponto, aliás, de ter preferido nem ouvir propostas mais vantajosas... de outro candidato ao título.

Mas vamos por partes.

Convém começar por dizer que o primeiro movimento por Taremi surgiu em janeiro de 2020, quando Sporting até tentou, mas acabou por não fazer aquele esforço extra que já na altura era necessário para contratar Mehdi Taremi.

Na altura, a meio da temporada, o Rio Ave exigiu 3,5 milhões de euros por 30 por cento do passe o Sporting considerou que era de mais.

Justiça seja feita, a SAD leonina já sabia naquela altura o que queria, e o que queria passava por apostar forte apenas no verão. Já a pensar na época seguinte. Foi nesse verão, aliás, que garantiu Nuno Santos e Pedro Gonçalves, que acabariam por campeões na época de estreia em Alvalade e, desde então, têm sido fundamentais para Ruben Amorim.

Os dois eram, juntamente com Paulinho, as prioridades do treinador leonino.

Por isso, e porque precisava de se conter nos investimentos a pensar no verão, o Sporting nunca chegou perto do valor pedido pelo Rio Ave, clube no qual o iraniano já começava a dar nas vistas. Sem acordo, o jogador continuou em Vila do Conde e não tardou em despertar o interesse dos outros dois grandes clubes do país.

Luís Filipe Vieira foi com tudo... para nada

Acabou por ser o FC Porto a ganhar a corrida pelo avançado, tendo para isso de desembolsar cerca de 4,5 milhões de euros para garantir a compra de 85 por cento do passe (mais o passe do jovem André Pereira).

Para além disso, a SAD portista teve de agir rapidamente nos bastidores para convencer também o iraniano, que tinha acabado de fazer 18 golos no campeonato pelo Rio Ave e atraía a cobiça de vários clubes, dentro e fora de Portugal.

Taremi deu assim a palavra aos dragões e não voltou atrás.

Não precisou de assinar qualquer papel para manter aquilo que tinha combinado com Pinto da Costa. Nem mesmo uma nova sondagem do Sporting e, sobretudo, uma tentativa desesperada do Benfica, por meio de Luís Filipe Vieira, convenceram o jogador a mudar de ideias.

Na ocasião, os encarnados estavam dispostos a pagar o dobro de salário para o goleador. Vieira chegou a manter uma reunião com o então presidente António Silva Campos e com um empresário árabe, num hotel de Lisboa, para fazer um último ataque à contratação do iraniano, mas a resposta que obteve foi que a palavra dada ao FC Porto era definitiva.

Uma decisão que, na verdade, não surpreendeu assim a tanta gente.

Pessoas próximas ao processo da venda de Mehdi Taremi para o FC Porto confidenciaram ao Maisfutebol que o jogador havia passado por duas situações semelhantes, no momento em que resolveu experimentar a primeira aventura no futebol europeu.

Entre 2017 e 2019, o iraniano era um dos principais destaques do Al-Gharafa. Tinha um ordenado alto e, após duas temporadas no Qatar, decidiu que queria jogar na Europa. Viu surgir o Rio Ave e não pensou duas vezes, mesmo tendo de descer o seu salário de forma significativa: deu o «sim» ao emblema de Vila do Conde e entrou de férias.

O altruísta que comprou vacinas para as pessoas da sua cidade e recusou mais milhões árabes

Dinheiro, aliás, nunca foi a maior motivação na vida do avançado que, no Irão, passou por Shahin Bushehr, Iranjavan e Persepolis.

Nasceu em Bushehr, num berço privilegiado, e cresceu sempre a olhar para o próximo. Não tem medo de se manifestar em defesa dos direitos humanos e participa frequentemente de ações sociais – costuma oferecer comida e roupa às pessoas mais necessitadas da sua cidade, por exemplo, e no auge da pandemia financiou a compra de vacinas para o povo de Bushehr.

Ora por isso, quando em junho de 2019, à espera da viagem para se apresentar no Rio Ave, Taremi estava a desfrutar das férias com a família, chegou um convite para permanecer no Médio Oriente. Em cima da mesa estavam números superiores aos que recebia até então no Al Gharafa. De nada adiantou. O avançado agradeceu a investida milionária, mas reforçou que tinha tudo acertado com o emblema vilacondense.

As coisas não pararam por aí, porém.

Assim que desembarcou em Portugal para cumprir o sonho europeu, o iraniano foi alvo de forte cobiça do Sp. Braga. Os minhotos ofereciam melhores condições de trabalho, entre salário e estrutura, o que assustou os vilacondenses.

Com receio de perderem o reforço, o Rio Ave acelerou toda a documentação e assinou contrato na madrugada desse mesmo dia. O jogador, novamente, se manteve fiel ao pré-acordado e nem quis ouvir a proposta do Sp. Braga.

De palavra em palavra, de gesto em gesto e, especialmente, de golo a golo, Mehdi Taremi é hoje das principais figuras do Irão e, não menos importante, dos grandes nomes da história recente do FC Porto. Joga de dragão ao peito há quatro temporadas e vai ser novamente uma das armas ofensivas de Sérgio Conceição na tentativa de assaltar a liderança na Liga, no reencontro com um dos clubes que rejeitou para se tornar estrela do FC Porto.

Ele que já defrontou o Sporting por nove vezes com a camisola portista, marcou dois golos e fez três assistências. Soma cinco vitórias, quatro empates e zero derrotas.