João é o Pica dos sete. E não se trata apenas de um trocadilho fácil. Senão vejamos: o jogador, que é a figura da jornada 31 para o Maisfutebol, tem sete jogos disputados pelo Tondela e, com ele em campo, os beirões venceram quatro partidas e empataram uma. Ou seja, nos sete jogos em que Pica participou, a equipa ganhou 13 pontos, contra os 10 alcançados nas restantes 24 jornadas em que o camisola 3 não entrou em campo. Sintomático, não?

Permita-nos que comecemos pelo último capítulo. Estádio do Bonfim, minuto 86 do jogo entre o V. Setúbal e o Tondela. O nulo no marcador parecia ser o resultado mais provável de uma partida em que, como escreveu o Maisfutebol, o futebol praticado pelas duas equipas foi fraco». Uma realidade que se pode justificar pelo momento delicado que ambas as equipas vivem nestas últimas jornadas da Liga, em que a luta pela permanência está mais viva do que nunca.

Ora, para esta vivacidade da disputa na cauda da tabela, o contributo de Pica é inegável. Isto porque, no minuto 86 da referida partida, o central tondelense subiu à área contrária para, no meio da confusão, marcar o golo que deu a vitória à sua equipa, que passa a estar a um ponto da Académica e a três do U. Madeira.

E é nesta altura que o nome deste central tem de ganhar ainda maior relevância. É que esta não foi a primeira vez que Pica se mostrou decisivo na conquista de pontos para o Tondela, esta época.

À passagem da jornada 27, na receção ao Belenenses, Pica foi a grande novidade no onze escolhido por Petit, numa altura em que o atleta, que cumpre a quinta temporada em Tondela, apenas tinha disputado um jogo a titular (curiosamente com o V. Setúbal, na jornada 14), e tinha entrado nos últimos minutos do triunfo auri-verde em Moreira de Cónegos (24.ª jornada). O que é certo, é que no jogo diante do Belenenses, o Tondela chegou ao empate aos 90+2', num golpe de cabeça, imagine de quem: João Pica. Fácil.

A liderar a revolução de Abril do Tondela

O jogo diante do Belenenses, o último jogado no mês de março, revelar-se-ia mesmo uma metáfora interessante do que tem sido a época de estreia do Tondela na I Liga. Em desvantagem desde o minuto 10, e a perder 0-2 à hora de jogo, os tondelenses foram conquistar um ponto em que poucos já acreditariam. Ainda assim, a conquista parecia curta para uma equipa que ficava a nove pontos do penúltimo classificado e dez abaixo da linha de água.

Só que entretanto chegou-se a abril, que como se sabe, é um mês propício a revoluções. E o Tondela concretizou a sua, alcançando três vitórias em quatro jogos, deixando em plena ebulição a luta pela permanência.

E voltamos a Pica, que não voltou a sair do «onze» de Petit, e se tem assumido como um dos líderes desta revolta pacífica, que só lá para meio do mês de maio vai deixar saber quais as duas equipas que se rendem neste desafio.

Apoiado nos dados acima referidos, o Maisfutebol convidou Pica a descrever a forma como viveu o golo que deu a vitória no Bonfim, mas também aquilo que tem sido a reta final do Tondela. Numa resposta por escrito, o camisola 3 dos tondelenses afirma ter vivido «intensamente e com uma enorme alegria» o momento do golo, realçando que «ficava igualmente feliz se tivesse sido um colega a marcar naquela altura do jogo.»

Esse é o espírito de quem, durante grande parte da época, foi vendo de fora uma luta que foi trazendo poucas alegrias ao grupo de trabalho. Pica reconhece que quando os adversários estavam mais longe, o balneário viveu «momentos difíceis» em que «muita coisa passou pela cabeça». «Mas a vontade de dar a volta à situação foi maior e, felizmente, temos dado uma resposta positiva a essa 'pressão' da luta pela permanência», exclama.

Questionado sobre se se sente uma espécie de «talismã» nesta recuperação, o jogador refere ser apenas «mais um com vontade e ambição para alcançar os objetivos». «Sabia que mais cedo ou mais tarde iria ter uma oportunidade, e, como profissional compete-me trabalhar sempre nos limites e estar preparado», atira o central nascido no Alentejo há 30 anos.

E foi o que fez, como mostrou quando a oportunidade surgiu. Ele que, não obstante ser «apenas mais um», tem sido alvo de algumas brincadeiras por parte dos colegas que reconhecem a importância que Pica tem tido nas últimas jornadas. «Costumam dizer que quando eu jogo, as linhas aéreas estão fechadas», conta animado, numa alusão ao domínio que que o central assume no controlo do jogo aéreo.

«O grupo está feliz e nestas alturas há sempre mais brincadeiras», reconhece o tondelense, sublinhando de imediato que a equipa “continua muito focada e concentrada», para as «três finais que faltam e que queremos vencer».

Fica o aviso deste Pica dos sete que, de um modo frenético, contribuiu para que os peitos que eram céticos toquem a rebate, no que resta do campeonato.