As urnas abriram com normalidade em Peshawar e mantiveram-se quase sem incidentes até ao fecho, às 17 horas locais (12:00 em Lisboa).

A provincícia de NWFP (Norwest Frontiers of Pakistan), de que Peshawar é a maior cidade, era uma das maiores preocupações do Governo paquistanês no que diz respeito à segurança, sobretudo pela proximidade com o Afeganistão e ainda por incluir a zona de FATA (Federally Administered Tribal Areas) onde os chefes tribais controlam política, religiosa e administrativamente toda a região.

É nesta FATA e em toda a província de NWFP que se assitiu à maior onda de ataques suicidas com destaque para a pequena cidade de Parachinar onde um bombista suicida matou 47 pessoas e feriu mais de uma centena.

Os feridos mais graves foram chegando ao hospital central de Peshawar, quase todos de helicópetero, e ainda esta segunda-feira de manhã chegou uma ambulância do aeroporto com mais 10 feridos.

O responsável máximo do hospital de Peshawar, Assif Farman, explicou que os feridos que inspiravam mais cuidados chegaram com queimaduras graves e estilhaços em todo o corpo.

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Os doentes estavam quase todos na enfermaria num cenário dantesco com os mais queimados em posições estáticas, sem mexer os braços e pernas, como estátuas, enquanto os familiares os tentavam alimentar com palhinhas em copos de sumo. Assif Farman confirmou que estão 25 feridos naquele hospital, um dos quais com poucas hipóteses de sobrevivência, com queimaduras em 70 por cento do corpo.

Os locais de voto estavam definidos pelas autoridades como mais sensíveis, muito sensíveis, sensíveis e normais. Das 7931 centros de voto, 1094 foram classificadas acima do normal, com particular incidência para a zona de FATA.

A violência nas zonas tribais passa essencialmente por uma questão que raramente vem referida nas páginas dos jornais: estas áreas, há dezenas de anos, que são controladas, para além dos chefes tribais, por uma espécie de máfia local que produz e trafica armas, ópio e haxixe. São inúmeros os campos de cultivo de estupefacientes e fábricas que produzem armas e componentes.

Fronteiras sem controlo

Durante décadas, não houve lei na região e ainda hoje a falta de controlo governamental é visível. Todavia, a tentativa das autoridades paquistanesas de controlar as fronteiras do seu país originou uma onda de protestos entre os habitantes daquela zona, que aproveitaram ainda o facto de Pervez Musharraf apoiar os Estados Unidos nas acções contra os Talibans no Afeganistão.

O último local de voto que se podia observar estava precisamente antes de uma fronteira física com FATA, fortemente controlada por militares, que impedem qualquer passagem, sobretudo a estrangeiros, fortemente avisados pelo Governo para não se deslocarem àquelas àreas.

O aviso governamental é também válido para a cidade de Peshawar, que ficou interdita a observadores internacionais e é desaconselhada a jornalistas.

Aliás, em todas os locais de voto em que foi permitido entrar, apenas estavam representantes locais, o que pode ter originado o protesto de Zahoor Ahmed: o homem, de 30 anos, queixou-se a jornalistas da fraude a que tinha sido sujeito. Segundo ele, quando se preparava para votar, foi informado que o seu nome já tinha sido registado como votante. De pouco lhe valeram os protestos.

Para as expectativas e receios de violência generalizada, as eleições decorreram dentro de alguma normalidade, apesar do registo de confrontos esporádicos, que podem até ter originado mortes. O fluxo de informação é de tal forma avassalador que as confirmações com exactidão só são possíveis algumas horas depois.