O depoimento de Jenni Hermoso perante o Ministério Público espanhol, que teve lugar há cerca de um mês, foi divulgado esta segunda-feira pelo programa Código 10, da Telecinco.

A futebolista espanhola garante que não consentiu que Luis Rubiales, antigo presidente da Federação espanhola (RFEF), a beijasse no palco instalado no relvado após a conquista do Mundial feminino.

«Em nenhum momento o beijo foi consensual. Mancharam a minha imagem, senti, como jogadora e trabalhadora da Federação, que ninguém me estava a proteger. Pediam-me para protegê-los, para ajudá-los, mas em nenhum momento eu senti como se alguém me estivesse a proteger», disse a jogadora do Pachuca.

«Estava um pouco mais nervosa. Em nenhum momento me teria permitido começar a chorar num canto para que todos me dissessem: "O que se passou?". Era hora de comemorar. Também tinha de proteger as minhas companheiras», prosseguiu.

«Não mereço ter passado por tudo isto. Para mim foi muito difícil não poder sair de casa. Tive de sair de Madrid para não sofrer aquela pressão de pessoas que só queriam magoar-me. Por que é que tenho de ficar reprimida ou chorar numa sala quando não fiz nada?», disse ainda.

Hermoso explicou também o que aconteceu quando foi receber a medalha de ouro. «Estávamos na cerimónia final. Puseram-me a medalha, cumprimentei a rainha, abracei a filha dela e o próximo foi Rubiales. Abracei-o, ele saltou para cima de mim, eu mantive-me firme para apoiá-lo e ele disse: "Ganhámos este Mundial graças a ti". O seguinte foi as mãos dele na minha cabeça.»

«Não ouvi mais nada e ele beijou-me», insistiu. «Eu nem esperava. Como poderia esperar aquele cenário depois de ser campeã mundial? Era muita alegria, mas não procurei aquele momento e nem fiz nada para que aquele ato acontecesse. Deparei-me com aquele momento e quando subi ao palco contei isso às minhas companheiras», recordou.

«Tínhamos sido campeãs, um facto histórico que nos custou a vida, e em nenhum momento poderia esperar que isso acontecesse. Assim como abracei a rainha e a sua filha, [Rubiales] era uma pessoa de confiança. Ninguém esperaria que usasse aquele momento para fazer algo assim, por mais espontâneo que fosse. Não tive tempo de reagir. Demorou alguns segundos e imediatamente desci ao palco com as minhas companheiras. A primeira coisa que eu disse à Alexia [Putellas ] e à Irene [Paredes]foi: "Ei, ele beijou-me". "Que estás a dizer?”, disseram-me. "Sim, sim, muito forte".»

Hermoso lembrou ainda que, depois de erguerem o troféu, as jogadoras espanholas continuaram a festa no balneário e, por isso, não quis estragar o momento das companheiras.

«O meu sentimento, naquele momento, era: "Não posso roubar de forma alguma os holofotes do acontecimento histórico que acabou de acontecer". Achava que não valia a pena agir diferente. Era colocá-las em algo em que elas não tinham culpa, como eu», realçou.

«Enfrentei e continuei a divertir-me com as minhas companheiras. Não queria arrepender-me de não ter aproveitado aquele momento. Transmiti o que senti às minhas colegas, mas não tinha visto a imagem do vídeo nem o que estava a ser dito», lembrou ainda.

Hermoso confessou que, assim que viu as imagens, entrou em «estado de choque».

«Estava no balneário e, de repente, entrou a Ana Álvarez. Ela disse que o presidente estava a ligar-me, que ele precisava que eu fosse lá fora. Ele começou: "Jenni, o beijo, está a haver muita conversa...". Disse-lhe : "Eu sei como foi e não está certo. Sabes que vai cair sobre ti, porque o que fizeste, fizeste na frente de todos. Não precisas de me contar nada, vais sentir o que aconteceu". Ele disse: "Preciso de dizer uma coisa no balneário". Ele estava ciente de tudo o que estava a acontecer. Quando entrámos, ele desviou um pouco o assunto. Ele disse que tínhamos uma viagem paga para Ibiza por termos vencido. Ele já estava um pouco nervoso. Segurava-me o tempo todo, segurava-me pelo ombro e começou a dizer que tínhamos pago a viagem para Ibiza. As pessoas começaram a gritar e continuaram a comemorar», afirmou.

A RFEF emitiu um comunicado pouco depois do beijo de Rubiales de Hermoso, onde a jogadora, alegadamente, referia que tinha sido um gesto «mútuo e totalmente espontâneo», algo que a mesma nega.

«Mostraram-me um documento sobre o qual não disse nem escrevi uma palavra. Disseram-me que estava a ficar muito complicado e que tinham de reduzir um pouco a questão: "Senti-me coagida"», concluiu.